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Um Contrato Com O Dono Do Morro

Um Contrato Com O Dono Do Morro

5.0
5 Capítulo
134 Leituras
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Sinopse

Índice

Aurora nunca imaginou que sua vida tomaria um rumo tão perigoso. Criada em meio à miséria, obrigada a sustentar um padrasto viciado e violento, ela sempre lutou para sobreviver. Mas tudo piora quando ele acumula uma dívida impagável com Ítalo, o temido dono do morro conhecido como Grego. Sem alternativas, Aurora se vê diante de uma proposta impossível: em troca do perdão da dívida, ela precisa ser barriga de aluguel para Ítalo, que deseja um herdeiro. Relutante, ela aceita o contrato, sem saber que sua vida nunca mais será a mesma. Ítalo é frio, implacável e carrega um passado marcado pela traição da mulher que amou. Ele não acredita no amor e muito menos em segundas chances. Mas conforme os meses passam e ele vê Aurora carregando seu filho, algo dentro dele começa a mudar. Enquanto Aurora e Ítalo lutam contra seus próprios sentimentos, o morro se torna um campo de batalha. Conflitos com a polícia, traições e o retorno de Juliana- a mulher que destruiu Ítalo no passado- ameaçam colocar tudo a perder. O que começou como um contrato se transforma em algo muito mais forte, mas será que o amor pode nascer no meio do caos? E mais importante... será que Aurora e Ítalo conseguirão sobreviver ao fogo cruzado que os cerca?

Capítulo 1 O início

> > AURORA NARRANDO < <

Acordo com o som do barulho da porta se abrindo. Minha mão já se estica automaticamente, como se o simples ato de sair da cama fosse um reflexo de anos de sobrevivência. O cheiro forte de álcool e cigarro invadem as minhas narinas, e é só mais um dia. O padrasto está deitado no sofá, roncando baixo, com os restos de comida e garrafas espalhadas pelo chão. Não tenho mais medo dele. Ele me agride sempre que está em um daqueles humores errados, mas aprendi a ignorar. O medo, o ódio, tudo é só uma parte do dia a dia.

Eu sou Aurora, tenho 22 anos, e há muito tempo deixei de ser uma criança. Eu carrego um peso que talvez ninguém consiga imaginar. O peso da sobrevivência.

Devo o meu primeiro suspiro de vida à minha mãe, que morreu quando eu ainda era muito pequena, e ao meu pai, que sumiu logo depois de ser embora para nunca mais voltar. De lá para cá, a vida se tornou uma luta diária para manter os pés no chão. Não que eu tenha realmente tido uma infância. Desde que a mãe morreu, o único que ficou ao meu lado foi meu padrasto. Ele não era um homem bom. Nunca foi. E a cada dia, ele piora. O vício o consome mais, e eu sou a última coisa que ele ainda se sente no direito de controlar.

Minha amiga Letícia é a única coisa boa que eu tenho na vida. Ela está comigo nos dias de raiva, nos dias de choro, nos dias de silêncio. Quando meu padrasto me bate na rua, ela me pega nos braços e me leva para sua casa, me oferece comida e um ombro para me apoiar. Ela me diz para ser forte, para não desistir. Mas por dentro, eu sei que sou frágil. Não consigo mais conter as lágrimas todas as noites, não consigo mais ser a garota sorridente que as pessoas esperam de mim. Eu não sou essa garota. Eu sou uma sobrevivente.

Deixei meu cabelo crescer sem realmente me importar. As roupas que eu uso são as mais simples, roupas velhas que comprava em brechós ou ganhava de alguma caridade. E mesmo assim, o que a minha alma carrega é bem mais pesado do que qualquer peça de roupa que possa cobrir meu corpo. As marcas nas minhas costas, na minha cara, na minha alma... essas ninguém vê. Mas Letícia vê. Ela sempre vê.

- Aurora, vai sair assim? - Ela me olha com uma expressão preocupada, me estendendo um suéter que ela pegou emprestado de sua irmã mais velha.

- Não tenho escolha, Letícia - respiro fundo, tentando segurar o nó na garganta. Eu queria poder ser mais. Queria ter forças para sair dessa vida, mas meu padrasto depende de mim para tudo. Eu preciso dar o que ele quer, fazer o que ele exige. Ele me força a trabalhar em qualquer lugar, até em cafés e lojas de conveniência, para manter a casa de pé.

Letícia não sabe de tudo o que passa em casa. Ela não sabe da humilhação constante, dos gritos, das noites em claro esperando por uma briga que sempre acaba em agressão. Ela não sabe que sou refém de uma situação em que a única coisa que me resta é sobreviver.

- Você sabe que eu estou aqui, né? - Letícia me abraça apertado, com a sinceridade e carinho de quem quer ajudar, mas não sabe como.

- Eu sei. Sempre sabe, Letícia. Sempre.

Mas eu não posso esperar por ela. Não posso esperar que alguém me salve. Eu já aprendi que sou só eu e a vida. Às vezes, acho que só preciso de uma chance, um único empurrão, para sair desse buraco. Mas não sei qual caminho tomar. Eu só sei que preciso continuar. Não importa o quanto doa.

O relógio marca o início da tarde, e sei que, mais tarde, meu padrasto vai me acordar para sair em busca de mais um trabalho. Ou talvez para me forçar a vender algo. Ou quem sabe ele vai continuar me pedindo dinheiro, me ameaçando. Eu sou a única fonte de renda que ele tem, e, por isso, ele não vai me deixar ir embora. Nem que eu queira.

É difícil aceitar isso, mas não tenho escolha. O peso do mundo já caiu sobre mim, e meu único desejo é sobreviver, por mais que pareça impossível.

A chuva caía fina naquela manhã, deixando as ruas do morro ainda mais sujas e escuras. Eu puxei a blusa surrada para cobrir melhor os braços e abaixei a cabeça ao passar pelos becos, tentando ignorar os olhares dos que já me conheciam. A miséria não era novidade ali. As pessoas aprendiam a sobreviver, algumas com dignidade, outras... nem tanto.

Eu trabalhava numa lanchonete na parte baixa da comunidade, perto da avenida principal. Não era muito, mas era o suficiente para garantir que eu e meu padrasto tivéssemos algo para comer. Ou melhor, que ele tivesse algo para consumir. Porque comida mesmo, às vezes, ficava em segundo plano quando o vício dele falava mais alto.

- Aurora, mais rápido aí, porra! - O chefe gritou da cozinha, enquanto eu tentava equilibrar dois copos de suco e um lanche na bandeja.

Suspirei, acelerando o passo. Eu sabia que precisava segurar aquele emprego, não importava quantas vezes fosse humilhada ali dentro. Era minha única saída.

Quando o expediente acabou, já era noite. Eu desci as escadas do beco que levava até a casa onde eu morava. O cheiro forte de cigarro e bebida barata já vinha da entrada. Ao abrir a porta, vi meu padrasto jogado no sofá, os olhos vermelhos e um copo de cachaça na mão.

- Demorou, hein? - Ele resmungou, sem nem levantar a cabeça.

- Eu estava trabalhando.

Ele riu, um riso amargo, cheio de deboche.

- Trabalhando? Pra quê? O dinheiro que tu traz nem dá pra nada.

Minha mão se fechou em punho ao lado do corpo, mas eu não respondi. Aprendi há muito tempo que discutir com ele era um convite para apanhar.

- Cadê o dinheiro? - Ele estendeu a mão suja, os dedos tremendo levemente.

Eu queria recusar, queria dizer que aquele dinheiro era para comida, para pagar pelo menos o arroz e o feijão do mês. Mas sabia que não adiantaria. Se eu não entregasse agora, ele pegaria depois. E com violência.

Abri a bolsa e puxei as notas amassadas, colocando tudo na mesa. Ele pegou sem cerimônia, contando rapidamente.

- Tá faltando.

- Não tá, não. Foi o que ganhei hoje.

Ele estreitou os olhos para mim e, antes que eu pudesse me afastar, segurou meu braço com força.

- Tá achando que sou burro, né? Tá escondendo dinheiro de mim?

A dor subiu pelo meu braço, mas eu não reagi. Ficar imóvel era sempre a melhor saída.

- Não tô escondendo nada. É tudo o que eu tenho.

Ele apertou mais forte e me puxou para perto, o cheiro de álcool invadindo minhas narinas.

- Você me deve, Aurora. Se não fosse por mim, você tava na rua, passando fome.

Engoli em seco. Quantas vezes eu já tinha ouvido isso? Quantas vezes eu já tinha sido obrigada a aceitar essa manipulação nojenta?

Ele me soltou com um empurrão, fazendo com que eu quase caísse. Meu braço latejava, mas eu não disse nada. Apenas virei as costas e fui para o quarto.

Tranquei a porta e me sentei no colchão fino que ficava no chão. Respirei fundo, tentando controlar as lágrimas. Eu não podia me dar ao luxo de desmoronar. Não agora.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha única amiga, Letícia

Aurora: Não aguento mais isso.

Ela respondeu quase na mesma hora.

Letícia: Onde você tá?

Aurora: Em casa.

Letícia: Quer dormir aqui hoje?

Eu queria. Como queria. Mas sabia que, se eu saísse, meu padrasto faria um escândalo e talvez descontasse a raiva em mim depois.

Aurora: Não posso. Mas obrigada.

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