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Meus momentos com vocês

Meus momentos com vocês

5.0
5 Capítulo
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Sinopse

Índice

Clara, não era uma jovem comum, seus poucos amigos sabiam disso e a tratavam como um tesouro raro. Sua vida sempre foi uma luta para sobreviver sob a opressão de um pai autoritário e violento, uma madrasta fria e uma irmã caçula mimada e egoísta. Enquanto tenta manter sua sanidade e independência com a ajuda de seu irmão gêmeo, Ioannis, e sua ex babá, Noêmia; ela finalmente consegue um pouco de independência ao ficar noiva de Petros, um noivado de conveniência que a ajuda a escapar do controle do pai. Ela não está em busca de paixão, romance ou mesmo amor, tudo o que quer é fazer com que a empresa que criou com o noivo seja um sucesso e alcançar sua total liberdade. Durante um evento, Clara conhece Lucas Braga, um astro internacional, e os dois têm um encontro intenso e inesperado que a deixa confusa e emocionalmente abalada. Mas ela é Clara Sophia Lycaios Vilas-Boas, uma geek que crias jogos de computadores e que prefere passar uma noite de sábado na frente do computador a sair para uma balada e ele... Ele é o homenageado da festa, o rosto e corpo que valem milhões, o astro perseguido pelos paparazzi, o homem que qualquer mulher daria tudo para ter... Lucas pode parecer perfeito, mas também tem seus traumas do passado e muita coisa a ser superada, no entanto ele vê em Clara sua primeira, talvez, única chance de ser feliz. Juntos eles terão que enfrentar os problemas com o pai dela e com os fantasmas do passado dele, a recompensa pode ser tudo o que eles sempre desejaram, mas não será tão fácil, principalmente para Lucas.

Capítulo 1 Por favor, não esqueça

"Você não está sozinha. Por favor, não esqueça."

Clara atravessou o amplo saguão da mansão no Alto da Boa Vista, o som do salto do sapato fazia um leve eco no ambiente vazio enquanto ela caminhava apressada. Ao entrar na sala de jantar as quatro pessoas sentadas a mesa expressaram diferentes reações a sua chegada. Seu pai, à cabeceira da mesa, sequer se dignou a olhar para ela, a madrasta, sentada à sua direita, lançou lhe um olhar indiferente e voltou a fitar o próprio prato, a irmã, Júlia, sentada a esquerda do pai, olhou-a de cima a baixo e deu um sorriso de desprezo maldoso e o gêmeo de Clara, Ioannis, ao lado da madrasta, fez uma careta brincalhona, tentando aliviar a tensão.

- Me desculpem o atraso. - disse ela, sentando-se rapidamente.

- Se for para chegar atrasada, não precisa vir. - A voz gelada do pai provocou uma contração no estômago dela.

- Perdão, paizinho, não vai acontecer de novo. - murmurou ela, em tom baixo e trêmulo.

- Não se dê o trabalho de fazer promessas que não pretende cumprir, Clara Sophia. Todos sabemos o quão inútil você é quando se trata de cumprir regras. Eu não sei como alguém com inteligência acima da média pode ser tão estúpida para entender coisas básicas... - Enquanto ele falava com sua voz fria e implacável, Clara se manteve em uma pose humilde e sua mente começou a divagar.

"Teorema Chinês dos Restos, atribuído ao matemático chinês Sun Tzu Suan Chang, ou Ching. Um dos primeiros livros, a registrarem esse teorema é o Manual de aritmética do mestre Sun..."

- Pelo menos se deu o trabalho de lavar as mãos, Clara Sophia, já que continua com as roupas da rua? - a voz fria e severa da madrasta penetrou sua mente vinda de longe, interrompendo o fluxo de pensamentos, Helena sabia que essa lembrança irritaria ainda mais o marido e fez de propósito. Andreas Lycaios Vilas-Boas exigia que os filhos chegassem cedo e tomassem banho antes do almoço de domingo.

- Sim, tia Helena. - murmurou, ainda na mesma posição. - Me desculpe, tive medo de me atrasar mais ainda se fosse trocar de roupa primeiro. Mas tomei banho em casa, antes de sair. - a madrasta a encarou por um momento, mesmo sem levantar a cabeça, Clara podia sentir o olhar intenso dela.

- O que aconteceu? Você está diferente. - Clara não conseguiu evitar de erguer a cabeça e olhar para madrasta com horror. De onde ela tirava essas coisas?! - Ah! Eu sabia! Aconteceu alguma coisa! Ela está com ar de mulher satisfeita! Parece que os noivos não conseguiram esperar até o casamento, querido. - Clara gelou, e seu rosto perdeu toda a pouca cor que tinha. Helena sabia que a simples ideia da filha dormir com o noivo, tiraria seu pai do sério. Estremeceu quando o pai deu um soco na mesa e, sem conseguir evitar, encolheu o corpo contra a cadeira. A sombra da proximidade dele a fez encolher um pouco mais e a voz de Ioannis soou levemente estridente, enquanto ele se apressava em dizer.

- Conte logo para eles sobre o contrato, Clara! - A mente geralmente aguçada dela parecia um papel em branco. - Pai, Clara e Petros fecharam um contrato ontem à tarde, por isso ela está tão animada. - "Animada?!" Ela quis gritar, mas continuou imóvel. Sentiu o dedo duro do pai machucar a parte de baixo de seu queixo enquanto ele puxava seu rosto para cima, obrigando-a a olhar para ele. Os olhos dela se encheram de lágrimas e a reação do pai foi de espanto e desconfiança. Clara nunca chorava, nunca, por pior que fosse o castigo.

- É verdade? Vocês conseguiram o tal patrocínio? - ela confirmou com a cabeça, não confiava na própria voz para confirmar uma mentira. O olhar especulativo do pai percorreu seu rosto por um momento e ele a soltou, voltando para seu lugar. - Pare de usar essa língua venenosa, mulher. - Disse ele a esposa e foi a vez dela de baixar os olhos.

- Desculpe, querido, eu só... - ela murmurou, mas o olhar frio do marido a fez parar e em seguida lançar um olhar raivoso para Clara.

O almoço transcorreu no mesmo clima tenso e cheio de ressentimento de sempre. Sem conversas, sem alegria familiar...

Uma vez Ioannis lhe dissera que sempre tomava antiácidos antes dos almoços de domingo, uma coisa que aprendera com Noêmia quando ele, ainda adolescente, tinha crises de gastrite todo domingo à tarde. Para Clara aquele era um preço baixo a pagar por ter conseguido sair de casa antes do casamento. Pelo menos agora eram só os jantares de sexta e os almoços de domingo, sem contar alguns eventos sociais que era obrigada a participar com a família. Ela começou a comer e ao mastigar, percebeu que o queixo ficara dolorido por causa da pressão do dedo do pai.

- Por que Petros não veio? - perguntou Júlia, assim que a sobremesa foi servida. A meio irmã era uma garota linda, com longos cabelos escuros que caiam em ondas até os quadris estreitos, o rosto lembrava muito o da mãe, com a beleza grega clássica e perfeita das estátuas das deusas. Apenas no corpo as duas se diferenciavam bastante, pois ao contrário do corpo exuberante da mãe, Júlia era muito magra e fazia questão de se manter assim, já que era manequim e modelo. As duas não tinha nada em comum, nem um pingo de amor fraternal corria nas veias de Júlia, apesar de Clara se lembrar de ter gostado da ideia de ter uma irmãzinha quando Júlia voltara da maternidade com a mãe.

Infelizmente o relacionamento das duas fora pautado pela frieza e ressentimento que a madrasta fazia questão de demonstrar sempre que o marido não estava por perto. Helena tinha 27 anos quando se casara com Andreas e foi obrigada a assumir a criação dos gêmeos do primeiro casamento do marido, no mesmo ano engravidou e conseguiu que ele contratasse uma babá para se encarregar dos dois, alegando que a gravidez a deixava fraca para cuidar de duas crianças hiperativas e inteligentes demais.

A vida não teria sido fácil para a família, mesmo que os irmãos não fossem superdotados, Helena simplesmente não lavava jeito para ser mãe, quem dirá madrasta.

Júlia foi um bebê frágil, uma criança birrenta e, finalmente, uma jovem garota mimada e arrogante. Os irmãos se mantinham afastados desde que a caçula aprendera que, se culpasse os dois por tudo de errado em sua vida, a mãe a premiaria fazendo todas as suas vontades.

Assim... tudo o que acontecia de errado na casa da família Lycaios Vilas-Boas, era culpa de um ou dos dois gêmeos.

Mas havia outra coisa que tirava Helena do sério, os enteados se desenvolviam rápido e demonstravam aptidões que sua filha jamais teve ou teria.

Clara se lembrava vagamente de um tempo em que seu pai sorria para ela, mas achava que era apenas fantasia de criança, pois tudo o que conhecera a vida inteira fora um pai frio, agressivo e violento, tanto com ela, quanto com Ioannis.

Já perdera a conta das vezes em que o irmão sofrera agressões por sua causa e das vezes em que fora para a escola escondendo marcas roxas das surras da madrasta ou das agressões do pai.

- Ele teve que ir para Petrópolis ontem. - respondeu ela, indiferente. Sabia que sua irmã tinha uma paixonite adolescente por seu noivo.

- Petros é um bom menino, bom filho, eu gosto dele. - Clara sabia que, na verdade, a maior qualidade de seu noivo era o fato de seu pai ser amigo de infância do pai dele e gostar bastante do rapaz. Ao pensar no noivo Clara sorriu com doçura.

- Vi que não publicou mais fotos com ele, problemas no paraíso, maninha? - ela já estava acostumada com as alfinetadas de Júlia, então apenas deu de ombros e não respondeu e sua madrasta reagiu, irritada.

- Será que não pode se comunicar como um ser humano?! - ela olhou para a madrasta e em seguida para a irmã.

- Não tenho tido tempo para publicar muita coisa, essa semana foi a finalização do novo jogo e tanto eu quanto Petros estávamos ocupados demais. Além do mais, minha conta no Instagram é basicamente de trabalho, então não faz sentido ficar publicando fotos de minha vida privada. - as duas se encararam e as faíscas de ódio nos olhos da irmã não provocaram nenhum prazer em Clara, que voltou a olhar para o prato de sobremesa.

Por sorte o ressentimento de Júlia nunca conseguia penetrar a armadura que Clara construíra para si ao longo de todos aqueles anos de assédio e maus tratos.

Ela e Ioannis conseguiram manter a sanidade graças a presença um do outro e ao amor de Noêmia, a babá que fora contratada para cuidar dos gêmeos e que hoje era governanta na casa de Andreas. Noêmia não era uma mulher que aceitava desaforos e apesar disso Helena nunca conseguira se livrar dela, ainda que a tratasse como lixo. Clara e Ioannis sabiam que a governanta só aceitava aquilo por causa deles e a amavam incondicionalmente.

Assim que a sobremesa acabou, Andreas se levantou e deixou o ambiente, Clara e Ioannis fizeram o mesmo assim que o pai deixou a sala e subiram para o quarto de Ioannis. Ela olhou para o irmão que se jogou na cama com um suspiro de alívio.

- Acha que ficaremos velhos vindo a essa casa toda sexta e domingo para aguentarmos essa babaquice de jantar e almoço de família? - Clara revirou os olhos.

- Não, acho que isso acaba assim que Helena bater as botas. - retrucou com um tom debochado e um olhar venenoso para o irmão, que deu uma risada.

- Acha que ela inventou essa "tradição, só para nos torturar? Ela é bem capaz disso. - Clara observou o irmão se sentar na cama e olhar para ela com um sorriso moleque e um brilho especial nos olhos dourados.

Ele era lindo, aos 22 anos, Ioannis era uns vinte centímetros mais alto que ela, o corpo esguio e magro, mas musculoso.

Ele dizia que aprendera a malhar com os militares no ITA*, mas Clara achava que tinha algo a ver com o fato de ele querer proteger a ela e a si mesmo do pai. Uma leve batida na porta fez Ioannis apertar os lábios, irritado.

- Entre! - exclamou Clara, abrindo um sorriso alegre ao ver Noêmia entrar. - Nôno querida, que saudades! - ela levantou da poltrona, abraçou a babá com carinho e encheu seu rosto corado de beijinhos.

- Trouxe alguma roupa para lavar, Clarinha? - fazendo Noêmia se sentar na poltrona onde estivera, Clara sentou no chão e colocou a cabeça no colo da babá que, automaticamente, começou a acariciar seus longos cabelos ruivos.

- Não, Nonô - Ela sorriu, um sorriso de menina levada e a governanta encarou-a desconfiada antes de abrir um sorriso largo.

- Minhas crianças estão crescendo mesmo... - comentou ela, se inclinando e depositando um beijo na testa de Clara.

- Estou ficando com ciúmes desse carinho todo. - As duas riram e Noêmia apontou o dedo para Ioannis.

- Se está carente, trate de arranjar uma namorada, garoto, já passou da idade de ter uma! - Ioannis tentou fingir mágoa, mas não aguentou e riu.

- Então é assim, Clara fica noiva e ganha carinho, eu, coitado, sozinho, carente, só ganho bronca. - Clara pegou a almofada que estava no chão e jogou no irmão, rindo.

- Você é o mais mimado de todos, garoto! Como você está, Nonô? Parece cansada, tem tomado suas vitaminas direitinho? Está se cuidando? - Noêmia deu uma risada depois de depositar um beijo na bochecha de Clara e ouvir um grunhido de Ioannis.

- Sou eu quem deveria estar fazendo estas perguntas! - disse, observando o rostinho suave e doce da jovem mulher. - Desde que você saiu de casa, você perdeu peso, hoje está até com olheiras! Não gosto de ver você com esse ar cansado. Já faz meses que não traz roupa para eu lavar, nem vem buscar comida escondida! - Clara puxou a mulher mais velha e as duas se abraçaram.

- Ah, Nonô! Não se preocupe! Eu finalmente comprei a máquina de lavar roupas e abriram um restaurante de comida caseira na esquina da minha rua, tenho me alimentado bem, não se preocupe. Você podia tirar umas férias, ir visitar sua filha em Portugal, descansar um pouco esse corpo cansado. Não precisa ficar se matando de trabalhar mais, Nonô! Se não quiser ir morar em Lisboa com a Mônica, podia se mudar pra minha casa, assim eu cuidaria de você! - a mulher a fitou com os olhos marejados e acariciou seus cabelos de novo.

- Você e Ioannis vão acabar me matando do coração com tanto amor. Ele me fez um convite parecido na semana passada. Deus me deu dois presentes quando me deu vocês.

- Ioannis é safado! Ele só convidou porque ia ter quem cozinhasse, lavasse e passasse para ele! Nem pense em aceitar o convite dele e rejeitar o meu! Além do mais esse garoto não vai ter casa tão cedo, Nonô! Na minha casa você só vai precisar se alimentar e cuidar do seu crochê e das suas coisas. Se quiser até contrato uma pessoa para cuidar da casa e de você! - a empregada deu uma risada gostosa.

- Imagina! Eu dando uma de madame! Quando Mônica me pediu para ir para a Portugal com ela, me disse a mesma coisa! Mas eu não saberia ficar sem cuidar das coisas, além disso, sua madrasta teria um enfarto se eu pedisse demissão. - dessa vez as duas riram.

- Olha! Clara, pegue o note, vamos digitar essa demissão AGORA! - Clara segurou o riso ao ver o olhar bravo de Noêmia.

- Foi essa a educação que eu te dei, Ioannis Lycaios? - O tom de voz estava cheio de decepção e Ioannis deu um pulo da cama, correndo para beijar a velha babá.

- Me desculpe, Nonô, foi só uma brincadeira de muito mal gosto. É que o almoço de domingo está ficando cada vez mais difícil. E Helena também não ajuda. - A governanta acariciou o rosto do rapaz.

- Eu sei, meu filho, sei como sempre foi difícil para vocês, mas não pode dizer uma coisa dessas! Nosso Senhor não gosta de vinganças e, principalmente, não se fala em matar alguém, nem de brincadeira. - Clara achou que estava na hora de intervir.

- Você tem razão, Nonô, mas voltando ao que eu dizia, só quero que saiba que não precisa de nada disso. Independente do meu pai, sou uma mulher rica agora, posso cuidar de você tão bem quanto sua filha milionária!

- Mônica não é milionária. - retrucou Noêmia, levemente envergonhada.

- Ah, claro, o marido dela é que é! Não seja boba, Nonô, com um genro podre de rico, não tem por que você trabalhar, além do mais, eu adoraria ter você comigo. Poder retribuir todo amor que você me deu ao longo da minha vida.

- Não fale como se fosse uma velha, menina! Você só tem 22 anos e mesmo que seja independente e tenha feito sua própria fortuna, ainda é apenas uma menina! Você precisa viver mais, sair, se divertir, cair, levantar, cair de novo e ralar o joelho, levantar e seguir em frente... Você tem uma vida inteira pela frente, não deve desperdiçá-la com uma velha ou com um noivado morno. Rezo todas as noites para você encontrar uma paixão fulminante, que tire seus pés do chão e que te faça sonhar com uma família, filhos e muita felicidade. - Clara encarou a governanta e seus olhos se encheram de lágrimas.

- Nem todo mundo tem a sorte que você teve, Nonô, nem todo mundo encontra esse amor de contos de fadas. Eu e Petros...

- De novo o discurso da paixão fulminante? - perguntou Ioannis rindo, enquanto se inclinava e depositava um beijo no alto da cabeça da governanta. - Você está ficando velha, Nonô, fica repetindo essa mesma história toda vez que venho aqui. - ele piscou para Clara e aceitou o tapa que levou nas nádegas com toda dignidade possível em um rapaz de 22 anos.

- Não me chame de velha, Ioiô! - era uma brincadeira dos dois, Noêmia, nunca reclamou depois que os gêmeos começaram a chamá-la de Nonô, mas depois que Ioannis ficou adolescente, ela sempre brincava com ele chamando-o de Ioiô.

- Noêmia, já lhe pedi que não chamasse meu enteado por esse apelido horroroso. - os três se voltaram para a porta para encontrar Helena Vilas-Boas parada, com as mãos na cintura e um olhar de desprezo para os três.

- Ela não me chama assim, tia Helena, foi só uma brincadeira. - Afirmou rapidamente Ioannis, defendendo Noêmia.

- Sua madrasta tem razão, Ioannis. Isso não vai se repetir, Senhora. - Helena acenou e encarou Clara com olhar frio.

- Vai ficar para o jantar, Clara? - Se um olhar e um tom de voz fosse capaz de congelar algo, aquela mulher seria capaz de congelar a terra inteira, tal era sua frieza.

- Não se preocupe, tia Helena, não vou ficar. Tenho que ir a um evento da Starlit hoje. - Olhou para Ioannis e sorriu - Não gostaria de vir também? É um evento de boas-vindas ao novo astro da Starlit, prometi a Bruna que iríamos juntas. Porque não vem, Ioannis? - O irmão fez uma careta e balançou a cabeça.

- Não, obrigada. Estou indo para São Paulo amanhã e volto no final de semana, sábado embarcamos para os Estados Unidos. Quero descansar hoje, ver um filme, relaxar. A semana vai ser bem puxada... - Helena fez um ruído com a garganta e interrompeu.

- Porque não convida sua irmã para eventos como esse, Clara Sophia? Seria bom para a carreira dela. - Clara não sabia se ria ou gritava. "Que cara de pau!" Pensou irritada.

- O convite me foi feito pela Bruna, que vai atuar na série com o novo ator, posso perguntar se ela pode convidar a Júlia, mas, como você sabe, tia Helena, a Júlia nunca tratou a Bruna muito bem, então... Não posso garantir nada. - Ioannis virou o rosto e olhou para o outro lado, escondendo o riso. Helena não respondeu, apenas virou as costas e se afastou.

- Tem ambrosia na geladeira para você levar, Clarinha. - disse Noêmia, se levantando do sofá e se dirigindo à porta.

- E eu?! - exclamou Ioannis rapidamente e a governanta riu.

- Tem para você também, seu guloso, não sei como os militares não deram um jeito em você ainda. - Noêmia sorriu carinhosamente para os dois. - Tenho muito orgulho de vocês dois. - Os dois levantaram e envolveram a babá no que eles chamavam de "abraço de família" e ela se foi em seguida.

- Então, vão para a NASA na semana que vem... Está nervoso? - Ioannis voltou a se jogar na cama com um suspiro.

- Na verdade tenho estado tão ocupado com o mestrado que mal tenho tempo de pensar, quem dirá de ficar nervoso, mas quando entrar no avião e a ficha cair... Vou ter um ataque de pânico. E depois, se tudo der certo, e sei que vai dar, conseguirei um estágio lá para o próximo ano. - Clara sorriu orgulhosa de seu gêmeo.

- Nem acredito que vou ter um irmão astronauta. - disse ela, deitando invertida na cama e fazendo cócegas no pé dele, que encolheu a perna, riu e se jogou sobre ela, atacando sua cintura com os dedos rápidos. Os dois riam alto quando uma voz grossa ecoou pelo quarto.

- O que diabos está acontecendo aqui?! - Os dois pararam de rir no mesmo momento e olharam assustados para o pai, cujos olhos castanhos brilhavam de fúria. Ele entrou no quarto, enquanto Ioannis e Clara se levantavam com um pulo. Andreas agarrou o pulso da filha e puxou-a para fora do quarto. - É isso que está aprendendo, vivendo sozinha?! A se deitar na cama de qualquer homem?! - Ioannis seguiu os dois e segurou o braço do pai.

- Solta ela, pai! - Gritou o rapaz, puxando o braço do pai e soltando a irmã. - A culpa foi minha, eu estava fazendo cócegas na Clara e ela caiu na cama, só isso! - Andreas encarou o filho com um misto de surpresa e fúria, levantando a mão.

Desde que Ioannis entrara para o ITA, o pai nunca mais levantara a mão para ele, mas naquele momento, Ioannis ergueu os ombros e encarou o pai, de homem para homem, pela primeira vez.

Andreas sabia que nas atuais circunstâncias ele não só não tinha mais autoridade sobre o filho, como provavelmente perderia no caso de o garoto reagir. A constatação apenas aumentou sua ira contra Clara, mas o olhar de Ioannis o fez desistir.

- Já está se sentindo homem, não é? Vamos ver quanto tempo mantém essa sua coragem quando seu dinheiro acabar. - Com essas palavras, ditas num tom irônico, Andreas se afastou dos gêmeos.

Clara tremia violentamente quando o irmão a abraçou.

- Não desabe agora. Não dê esse prazer a ele. - murmurou o irmão em seu ouvido. - Vamos, eu vou te levar até o carro. Saia daqui, vá para sua festa e se acabe de tanto se divertir, será sua melhor vingança contra esse babaca. - Os dois desceram as escadas abraçados. - Assim que voltar de São Paulo eu te ligo, tá? Se não, nos vemos no jantar de sexta. - Ambos suspiraram, desanimados. Toda semana era aquela tortura... Ioannis se livrara disso quando entrou para o ITA e se mudou para São Paulo, mas Clara continuava se submetendo a cada sexta à noite e ao domingo a tarde, como se fosse algum tipo de masoquista idiota. - Isso vai acabar, Clara, tem que acabar. Você não está sozinha. Por favor, não esqueça.

*ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica – O ITA é uma instituição de ensino superior pública localizada em São José dos Campos (SP). É referência em engenharia aeronáutica e espacial e oferece cursos de graduação e pós-graduação na área.

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