Após passar anos recluso, o assassino de aluguel conhecido como LeBlanc recebe uma proposta quase irrecusável. Seu próximo trabalho envolve a única filha do presidente dos Estados Unidos. O tiro mais caro de toda sua vida. No entanto, a garota inofensiva entra em sua mente na medida em que ele a conhece, e concluir o trabalho se torna uma tarefa difícil. "Meu erro foi pensar que sairia de sua vida uma vez que entrei". --- Esta é uma história não recomendada para menores de 18 anos. Portanto, há o alerta de gatilhos e temas sensíveis! No demais, boa leitura.
LEBLANC...
O dinheiro move o mundo, e não estou sendo superficial quando digo isso. Até mesmo as igrejas são cheias de pinturas milionárias e padres corruptos. Digo, até que ponto somos capazes de chegar pelo poder aquisitivo? Porque tudo tem um preço, alguns são apenas mais altos.
Eu, particularmente, gosto das mansões beira-mar e carros esportivos. Meu caráter é altamente questionável se você tiver um milhão de dólares para me oferecer. Mas não dirija a palavra à mim com menos do que isso.
No entanto, o dinheiro não está em primeiro lugar. O respeito está.
Estaciono minha última compra em frente à mansão Campbell, propriedade de uma das famílias mais ricas da Itália. Após descer do carro, alinho o terno preto, apesar de ter certeza de que ele está perfeito.
Caminho até a porta de entrada da casa e, enquanto isso, volto ao pensamento anterior. O dinheiro é tudo. Meu último serviço foi prestado ao único filho de Daniel Campbell. Ele queria que seu pai dormisse o sono dos justos, para que pudesse colocar suas mãozinhas diabólicas sobre a fortuna da família.
Se me perguntar, eu direi que não concordo com sua atitude, mas sou apenas um trabalhador ganhando seu dinheiro honesto sem intrometer-se na vida alheia. Ele não me deve satisfações, me deve cinco milhões de euros.
Toco a campainha, e não espero por cinco segundos até que a porta seja aberta, o que me leva a crer que já havia alguém do outro lado esperando pela minha chegada.
- Boa noite, senhor – a governanta saúda.
- Boa noite, senhorita.
Faço uma breve avaliação ao meu redor. A casa é bem iluminada, com música ambiente tocando. A mulher diante de mim veste uniforme e seu cabelo está penteado. Não muito, mas toleravelmente.
- Por aqui, por gentileza – ela gesticula para dentro do hall.
Eu a acompanho casa adentro. Hoje, em particular, separei a noite inteira para jantar com Christian Campbell, e cheguei com dez minutos de antecedência. Chegar na hora é atrasar, e atrasar é desrespeitar.
A governanta me leva até a sala de jantar, onde Campbell já está sentado em uma das cadeiras da mesa redonda. Ele sorri largamente ao me ver, então se levanta.
- LeBlanc!
O homem é sorridente e alegre, nunca pareceria alguém que encomenda a morte do próprio pai. Quando nos falamos pela primeira vez, ele tratou o assunto como o preparo de uma festa de aniversário. Mas no fim, você nunca sabe quando há um criminoso sob seu teto, usando seu sobrenome ou dirigindo seus carros.
- Campbell – devolvo o cumprimento.
Ele me alcança e estende a mão, mas eu apenas aceno. Posso dizer que sou um homem de palavra, mas não de toque. É mais íntimo do que as pessoas com meio cérebro concebem, e nós, britânicos, sabemos disso desde sempre.
- Oh, eu me esqueci – ele recolhe a mão para si – Sente-se, por favor. Fez uma boa viagem?
Nos dirigimos para a mesa, e eu me sento ao seu lado, depois abro os botões do paletó.
- Sim, obrigado.
Daniel Campbell estava na Inglaterra a trabalho. Eu precisei ir de encontro a ele, pois meus serviços não duram mais do que uma semana. Tudo, como sempre, foi como planejado. Ele estava na varanda de seu flat fumando um cigarro e bebendo vinho. Eu estava no terraço do prédio adjacente. Uma bala e adeus. Pobre Daniel, não merecia um filho tão ingrato e egoísta.
- Bem, você não veio para experimentar a culinária italiana. Vamos ao que interessa – Christian coloca a mão no bolso interno do paletó e volta com um pequeno envelope de cheque em mãos.
Eu pego o envelope e o coloco direto no bolso, sem ao menos me dar o trabalho de checar. Não sou o tipo de homem com o qual você quer errar sequer um número.
- Obrigado pelos seus serviços.
- Disponha.
Ouço batidas de salto contra o chão, e pouco tempo depois a governanta retorna com duas taças de vinho e uma garrafa sobre uma bandeja. Muito provavelmente, ela é a única funcionária na casa esta noite.
Bem, eu não me importo com a quantidade de pessoas que me veem. Não sou o culpado pelo incidente com Daniel, pois não era pessoal. Se minha vontade fosse a única em questão, ele estaria em casa, são e salvo. Mas Christian é um desgraçado ganancioso, e eu um prestador de serviços.
- Pode deixar na mesa, Grace. Eu sirvo – Christian orienta, e ela obedece, mas não antes de me dirigir um olhar curioso e assustado.
Eu sou observador, preciso ser. É claro que eu notei seus olhos verdes e seus seios pulando para fora do decote. É claro que notei a saia mais curta do que quando ela abriu a porta. Mas, é claro, também notei a aliança dourada em seu anelar esquerdo. Posso afirmar que eram 24 quilates.
E eu não faço distinção. Gosto de mulheres casadas, mas não quando elas vêm até mim. Isso significa que são pouco confiáveis. Se não é leal ao homem com o qual divide lençóis, à quem seria?
- De que safra é este vinho? – pergunto, embora já saiba.
- Da nossa família – ele responde sorrindo, com orgulho, mas, aos poucos, seu sorriso some ao perceber minha expressão séria – 1998, eu acho.
Existem homens inteligentes. Aqueles que fazem um pedaço de lata se locomover e chamam de carro. Homens que fazem o mundo prosperar, porque estão sempre tirando algo de suas mentes e colocando na terra. Daniel era um destes.
Por outro lado, existem homens de músculos. Eles raramente usam o cérebro mais do que os braços. São os executores. E, ainda, existe uma terceira categoria. Aqueles que não usam o cérebro para fazer algo, mas pagam alguém para que faça. Christian é este homem.
E eu? Bem, talvez eu seja todos e nenhum ao mesmo tempo. Tenho meus executores, mas nunca confiei o suficiente nos inteligentes. Sou um homem de instintos, não de liderança. Não posso ser o chefe quando não confio em pessoas para formar uma equipe.
- Este é meu favorito – Christian diz enquanto sente o aroma do vinho já posto em sua taça de cristal.
Eu o observo como uma águia, registrando cada um de seus ridículos movimentos. Não passa de um garoto louco por dinheiro que irá gastar toda a fortuna do pai em cassinos com putas caras e carros de luxo.
- Eu dispenso o vinho, mas estou interessado no que você ainda tem para me dizer – digo, e então vejo Christian engasgar com o vinho e ganhar uma tonalidade vermelha no rosto.
- Oh, eu... – ele gagueja.
- Você está me enrolando mesmo após me entregar o cheque. Se tem algo para me dizer, esta é a hora.
Este homem está me insultando ao pensar que passaríamos mais dez minutos nesta conversa fiada até ele criar coragem suficiente para me dizer o que precisa. E a menos que tenha relação com minha Bugatti estacionada lá fora, eu não estou interessado.
- Eu estava tentando ser um bom anfitrião – ele mente – Mas você está certo. Eu... bem, eu tenho muitos contatos e...
- Sem enrolação – eu o interrompo.
- Há uma amiga minha que gostaria de contratar seus serviços.
Suas palavras quase me fazem sorrir pela primeira vez na noite. Eu sabia que Christian era um idiota, mas não imaginei o quanto. Porque se você conhece uma pessoa capaz de puxar o gatilho sem sentir remorso, mantenha-se longe dela, não fale sobre ela com seus amigos.
- Pensando bem, talvez não tenha sido uma boa ideia, mas ela é uma mulher em quem confio, e você certamente...
- Você está enrolando outra vez, Campbell. Me apresente a mulher.
Sim, eu quero conhecê-la. As mulheres sempre têm as mesmas demandas; o marido rico e doente que precisa morrer para que elas aproveitem o dinheiro com o amante trinta anos mais jovem.
Quando Christian abre a boca para dizer mais uma de suas asneiras, a campainha toca e ressoa pela casa inteira.
- Ela chegou – ele afirma.
Posso ler a expressão apavorada de Campbell. Aí está o porquê dele precisar de alguém para resolver seus problemas familiares. O homem é a covardia em pessoa. No entanto, isso me instiga a querer conhecer a mulher que está caminhando até nós exatamente agora.
Poucos cliques de salto alto são ouvidos, e então a diaba que assusta o inferno de Christian entra na sala de jantar, tanto que ele se levanta antes mesmo dela nos alcançar. Não me viro, apenas espero até que ela apareça no meu campo de visão.
Alta, loira, com cerca de quarenta anos ou menos, um tanto quanto familiar.
- Senhores – voz propositalmente aveludada, forjada para este momento.
- Sra. Donneli – Christian estende a mão.
Estou olhando para o aperto de mãos entre eles, mas sinto o olhar dela me analisando. Um franzir de sobrancelhas, porque sou diferente do ela esperava, seguido por um sorriso condescendente, porque ela não se importa.
- Então este é o homem – ela diz.
Sua voz é cheia de confiança. Eu sinto cheiro de medo em Campbell, no entanto, nela não. Só então me levanto, quando percebo que ela vale meu tempo.
- LeBlanc – me apresento.
- Donneli – ela não ergue a mão para me cumprimentar.
Olho dentro de seus olhos verdes, e ela não quebra o contato. Eu conheci pessoas muito ruins, Christian é uma delas. Pessoas que usam tratores para passar sobre seus oponentes. Mas Donneli é pior, ela é o próprio trator.
- Imagino que saiba porque estou aqui – ela sorri.
- Prefiro ouvir de você.
- Bem... – Donneli dá a volta na mesa e se senta do outro lado, na minha frente. Eu permaneço de pé.
Ela dirige um olhar significativo a Christian, que ele capta com rapidez, surpreendente.
- Eu vou lhes dar privacidade. Até logo – então o homem se retira.
Donneli fica ereta na cadeira, seu rosto continua parecendo familiar. Não alguém que eu tenha visto pessoalmente, e definitivamente não alguém que eu tenha levado para a cama. Talvez um rosto na televisão, mas não tenho certeza, dado o fato de que não acompanho as notícias há anos.
- Eu me casei com um político há dez anos. Ele tinha uma linda filha com sua falecida esposa, a primeira Donneli, como adoram dizer – ela diz com certo desprezo – Meu marido tem uma fortuna imensurável, e todos sabem. Talvez isso tenha triplicado após a posse.
A posse... A posse... Claro. Como eu poderia me esquecer? Esta é Margot Donneli, ninguém menos que a primeira dama dos Estados Unidos, esposa do homem mais importante do mundo.
- Mas não quero o dinheiro dele, muito menos sua morte – ela continua.
Margot é o tipo de mulher que coloca um cachorro peludo dentro da bolsa de grife. Ela não se importa com o marido, e me surpreende quando diz que não quer matá-lo.
- Estou ouvindo – informo.
Embora eu tenha prestado muitos serviços ao longo dos anos, poucos deles me cativaram tanto quanto esse. Margot tem minha atenção.
- Há doze anos, a então Sra. Donneli descobriu que tinha câncer, mas infelizmente estava em estado terminal. Antes de morrer, ela deixou um singelo presente para sua única filha – Margot bate suas unhas contra a mesa, me olhando de baixo, contudo, com certa superioridade – Tratava-se de pedras de diamante rosa em um cofre na Espanha.
Coloco ambas as mãos nos bolsos, atento às palavras dela. Esses melodramas de família são sempre dignos de Oscar.
- Ninguém além do advogado da família sabe sobre este tesouro, mas, felizmente, ele não está contra mim – ela sorri novamente, e então sei que ele não está contra ela porque está sob seus lençóis – Nem mesmo a garota sabe.
- Então? – instigo.
- Eu quero colocar as mãos nesses diamantes, e, para isso, preciso ser a única Donneli viva. Não me preocupo com Elliot, pois sei que será uma questão de tempo até estar fora do jogo. Ele é um político velho. Mas a menina...
Margot escava sua bolsa e volta com uma fotografia. Ela a coloca sobre a mesa de jantar e eu desço os olhos até a imagem. É uma fotografia do atual presidente juntamente com sua filha, a vítima do ódio da primeira dama.
É uma garota jovem, e não, eu não precisaria ser um gênio na leitura humana para dizer que ela é tímida, mas sou. A menina mal consegue olhar para a câmera, se escondendo sob o braço do pai de tal modo que eu sequer posso ver seu rosto. O vestido é branco, assim como o chapéu em sua cabeça, para conservar a imagem de boa moça que os Estados Unidos adora.
- Eu não aceito – digo, simplesmente.
- Oh, LeBlanc, não diga isso antes de falarmos sobre valores.
- Não me importo com o valor. Não trabalho com crianças – não tenho muitos princípios, mas sou irredutível com os que tenho.
- Ela tem vinte e um anos. A foto é antiga.
A filha do presidente, então? Quantas milhões de câmeras isso envolveria? Quantas bilhões de pessoas? Quantos anos? Isso soa como um desafio.
- Os diamantes custam trinta milhões de dólares cada, e há cerca de cem no cofre – Margot informa – Dez deles deixariam você satisfeito?
Ela sabe que sim, vejo em seu sorriso dissimulado. Um grande serviço, que provavelmente custará mais do que uma semana. Trezentos milhões por uma bala. Normalmente, eu prefiro trabalhar com pessoas como Daniel. Um homem rico, mas não conhecido. Sua morte não levantou poeira, porque ele simplesmente não era importante nem mesmo para seu filho.
- Você tem até o início das eleições, quando Elliot entregará o cargo.
- Quando será a eleição? - pergunto.
- Em dois meses.
Eu não sou um homem comprável. Já fiz trabalhos por dez dólares, apenas porque achava a causa justa. Também já fiz trabalhos por milhões, porque precisava trocar de carro. A questão nunca foi o dinheiro, e sim o quanto o trabalho chama minha atenção. Ganha quem contar a melhor história, valendo um tiro no crânio.
- Posso assumir que você aceitou? – Margot pressiona.
- Estarei na América amanhã pela manhã - informo.
- Eu sabia que sim – ela comemora com palmas – De quais informações você precisa?
- A única coisa que eu preciso saber é o nome da garota.
Eu não aceito informações sobre meus trabalhos. Não sou um psicopata. Eu gosto de me aproximar das vítimas, tomar café da manhã e chá da tarde juntos. Conhecer meu alvo como um montador conhece seu cavalo. Não vou mandar essa garota para o céu antes de me certificar de que nem Deus desconfiará de mim.
- Angelic Silver Donneli.
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