Um reino poderoso, mas que cresceu a preço de sangue e dor. O rei ambicioso oferece a filha jovem e ingênua em casamento para o rei do reino inimigo, porém por trás desse ato de paz, há uma estratégia: o rei deseja que sua filha Maeve mate o rei Sean. O rei Sean teve seu pai morto pelas mãos do rei Leon, o mesmo que ofereceu a filha em casamento como oferta de paz, mas o rapaz deseja vingança, a morte de seu pai não será em vão. Sean deseja matar a filha do rei para se vingar e fazê-lo sofrer, porém ele a mantém viva por descobrir que a moça pode ter herdado os poderes mágicos de sua mãe morta. Mas o que rei não podia imaginar é que enquanto se aproximava da moça para tentar usá-la como uma arma, seu coração o traiu, apaixonando-se pela bela jovem.
Maeve
Eu não era nada, não valia nada, não servia para nada.
Na verdade, agora valeria de alguma coisa: seria esposa do rei do reino vizinho e rival, na esperança de gerar uma paz temporária. Uma mentira, na verdade meu pai quer que eu me torne uma arma, essa é a utilidade que ele viu em mim. Uma chance de matar o rei, um homem que ascendeu ao trono recentemente devido a morte de seu pai, que foi causada pelo meu pai.
No passado o rei Leon, meu pai, era um pai amoroso e bom rei. Amava a minha mãe, amava ao seu povo e ao seu reino. Mas ele decidiu que seu reino seria o maior do mundo, por isso invadiu países vizinhos com seu exército que se tornava cada vez maior e mais poderoso, e seu reino cresceu como nunca antes pudemos imaginar, mas em uma dessas batalhas algo nele mudou.
O homem que antes era pacífico e amoroso, se tornou violento e frio. Não era mais o pai que eu amava, não era mais o marido perfeito que minha mãe amava. Agressões se tornaram comuns, palavras frias também, mas minha mãe notou que havia nele algo sombrio, uma escuridão que ela não sabia explicar.
Minha mãe era a última elfa do mundo, e que sorte grande a de meu pai encontrá-la e se apaixonar por ela, e ela por ele. O reino era forte o suficiente, ela prometeu que estenderia a vida de meu pai o máximo que pudesse, pois ele era um mero humano, um ser com vida curta e sem magia, então ele também teria uma vida mais longa do que o esperado para um humano. Com vida longa, um amor verdadeiro, um reino próspero, o que mais ele poderia querer? A resposta é poder, e em busca desse poder, ele foi corrompido.
O mundo virava um caos devido a busca incessante de meu pai pelo poder, a minha vida e de minha mãe havia se tornado um inferno, até que um dia minha mãe decidiu que deveria usar sua magia para conter a escuridão que havia tomado conta de meu pai. Com a ajuda de seus guardas, ele foi contido tempo suficiente para que minha mãe pudesse realizar o feitiço de purificação no qual expulsaria aquele mal do corpo do rei, porém, aquele poder maligno era tão poderoso que ela não conseguiu contê-lo e em meio a explosão de poder, minha mãe morreu.
E eu que acreditava que as coisas não poderiam se tornar ainda piores para mim, percebi que estava totalmente errada. Com a dor da perda, algo que me surpreendeu, meu pai se tornou ainda mais agressivo e me tornei o único alvo de sua ira.
Dez anos havia se passado, dez anos desde que vira meu pai ser um homem bondoso e amoroso, dez anos esperando que ele finalmente voltasse a ser o homem que ele era, mas depois do fracasso de minha mãe em tentar recuperá-lo, percebi que não o teria mais de volta. Teria apenas as lembranças de uma menina que era amada e protegida por seu pai, a mesma que agora virava o rosto esperando por uma bofetada que não veio, e eu descobriria por que nos próximos segundos.
- Você se casará com Sean. – Decretou meu pai e eu não sabia bem o que isso poderia significar. Eu sairia desse inferno? Poderia ter uma vida tranquila ao lado de outro homem? – Ganhará sua confiança e depois o matará.
As palavras de meu pai me chocaram.
- Mas, pai, por que isso agora? – Não entendia sua atitude nem o que havia o motivado para tomar tal decisão.
- Perdi a guerra, mas recuperarei o que perdi. O reino de Habrea será meu, o poder daquele reino será meu, e você conseguirá isso para mim.
O homem se afastou, recolhendo a mão que por pouco não acertou meu rosto. Levar bofetadas de meu pai já havia se tornado normal, sempre que o homem retornava frustrado por algo era sobre mim que descontava, principalmente depois da morte de minha mãe. Mas logo entendi também o motivo pelo qual meu pai não acertou meu rosto desta vez.
- Suba para seu quarto, se alimente bem e durma bem. Pela manhã será levada para o reino inimigo, não quero você com cara de cansada ou de choro.
Tudo o que ele queria era que seu plano desse certo. Ele não me amava, não mais. Mas a menininha dentro de mim ainda alimentava a esperança, a mesma que eu dizia para mim mesma já ter perdido.
Sem mais nenhuma palavra, meu pai deixou o cômodo e eu subi para meu quarto com a finalidade de fazer exatamente o que ele dissera. Talvez fosse melhor para mim, teria uma nova chance, poderia ter uma vida tranquila, só precisava conversar com o rei daquele reino. Não o mataria se ele a deixasse em paz. Seria uma troca justa.
Uma mestiça sem valor, com traços élficos como os cabelos loiros e longos de minha mãe e a orelha pontuda, porém sem magia, sem poder, sem habilidades. Talvez por isso meu pai tenha raiva de mim, não sou nada. Não sou humana. Não sou elfa. Sou algo entre os dois sem o que as duas raças carregam de bom. O corpo esbelto e aparentemente frágil de um elfo é recompensado pela magia, pela longa vida e pelas habilidades. A vida curta de um ser humano é recompensada pela força, resistência e inteligência. Quando meu pai olhava para mim o que ele via era a mulher frágil e sem magia, só serviria para casar-me com seu inimigo e matá-lo enquanto dorme. Era exatamente isso que ele queria, a única serventia que vira em sua filha.
***
Sean
- Leon acha que sou idiota! – Exclamei para minha maga de confiança.
- Talvez ele realmente queira oferecer uma oferta de paz. - Retrucou a maga.
- Aquele homem invade o meu reino, cria uma guerra, mata meu pai e depois quer paz? – Eu podia sentir o ódio ferver em meu sangue. – Eu quero vingança.
- E vai fazer o quê? Vai matar a filha dele? – Os olhos alaranjados da maga brilhavam acusadores na minha direção.
- E quem me garante que ela não vai tentar o mesmo?
- Já pensou que a moça vive um inferno no reino de seu pai e pode ver este reino como um refúgio? Dê a ela um tempo, quem sabe no futuro poderá ter uma valiosa aliada.
O dia estava muito bonito do outro lado da janela de meus aposentos, mas não tinha nenhuma vontade de caminhar pelo reino, de fazer o que meu pai fazia, não me sinto preparado para isso. Agora ainda tenho que lidar com a filha de meu inimigo chegando em meu reino. Uma esposa.
- Sean! – Chamou minha maga novamente, que mulherzinha chata. – Precisa decidir o que fará.
Olhei para a Ainda e fiz um gesto de despensa.
- Faça o que achar melhor em meu nome.
- Nem mesmo irá vê-la?
- Agora não, e não sei quando irei vê-la também. – A maga já estava saindo de meu quarto quando me lembrei de um detalhe. – Veja um bom lugar para que ela fique, mas bem longe de mim. – Um aceno, mas antes que ela se vire novamente eu completo. – Sem empregados.
Finalmente a maga deixa meus aposentos e eu fico sozinho com meus próprios demônios. Não quero ser rei, mas é isso que sou desde a morte de meu pai. Leon matou meu pai e isso não terminará em um simples casamento. Se ele acha que me compra com uma mulher, ele está enganado.
***
Maeve
O castelo do reino Habrea era imponente e bonito. Bandeiras vermelhas e azuis tremulavam nas alturas dando ao castelo um colorido bonito. Ao redor dele uma muralha gigantesca se estendia, não era possível nem mesmo ver onde terminava tal extensão. Dentro das muralhas do castelo havia algumas habitações muito bem cuidadas e lindos jardins ocupavam o espaço restante.
- Princesa Maeve – Curvou-se uma mulher esbelta que veio me receber. – Meu nome é Aida e fiquei incumbida de recebê-la e instalá-la.
Outros empregados vieram retirar minhas malas da carruagem enviada por meu pai.
- Sean não virá me receber? – Questiono afinal ele será meu marido.
Percebo que a mulher desvia o olhar, ela não me encara ao dar sua resposta e isso não significa boa coisa.
- Ele virá assim que puder, agora venha, por favor.
Quando acho que serei levada para o castelo, vejo que Aida toma a direção de uma das casas bem cuidadas que ocupam o espaço ao redor do gigantesco castelo. Ela abre a porta e força um sorriso.
- Este será seu espaço, fique à vontade. Se precisar de algo, pode pedir para que alguém me chame.
As malas foram deixadas na entrada da casa que ficava bem distante do castelo, era uma das mais afastadas. Ninguém se prontificou a me ajudar em nada. A mulher foi embora e eu fiquei na casa sozinha. Homem estranho, nem mesmo vem recepcionar sua esposa. Ou futura esposa, não sei bem em qual estado do acordo meu pai me enviara.
Pelo menos havia algo de bom nisso tudo, se ele não queria me ver, pelo menos teria dias tranquilos nessa casa.
Levei um tempo organizando minhas próprias coisas, algo que não tinha o hábito de fazer. Os armários da casa estavam abastecidos, o que foi um alívio para mim, pois depois de organizar tudo uma fome avassaladora me tomou.
Enquanto preparava um lanche para mim, ouço uma batida na porta. Vou atendê-la acreditando ser finalmente o rei, mas eram somente os guardas do castelo.
- Senhora – Um deles pronunciou e se curvou antes de falar – O rei pediu para informá-la que terá aulas todos os dias pela manhã com sua a maga de confiança, e essas aulas começam amanhã pela manhã.
- Aulas? Aulas de quê?
Os guardas se entreolharam e preferiram não revelar a mim.
- Vá ao encontro da maga nos jardins pela manhã e ela lhe informará. – Respondeu o outro.
- Tudo bem, obrigada por avisarem.
Os guardas partiram e me deixaram confusa. No dia seguinte saberia do que se tratava.
***
Quatro anos se passaram desde o dia em que cheguei no reino de Habrea. O rei Sean nunca viera me visitar, mas como vivia dentro das muralhas do castelo, às vezes o via e algumas dessas vezes ele estava acompanhado de mulheres. Não sei explicar, mas isso me machucava. Ele nem ao menos havia dado uma chance ao nosso casamento, que depois de algumas aulas com a maga descobri que mesmo sem cerimônia, Sean e eu estávamos casados. E também tive uma surpresa no primeiro dia de aula quando descobri que a maga de confiança do rei era Aida, a mesma mulher que me recepcionou. Ela era o contato mais próximo que eu tinha com o rei.
Às vezes me pegava pensando em Sean. Por que fazer com que eu tenha aulas de como ser uma boa esposa, se ele claramente não quer isso? Além da aula de "como ser uma boa esposa", eu também tinha aulas de magia, pois segundo a maga, poderia haver magia adormecida em meu corpo já que minha mãe era uma elfa. Aceitei as aulas de bom grado, eram uma distração, mas não entendia bem o propósito delas.
Depois de mais uma das minhas aulas com Aida, estou retornando para minha casa nas proximidades do castelo pensando na quantidade de roupas que deixei acumular. Agora teria muito trabalho para fazer, uma pilha enorme de roupas sujas para lavar, comida para fazer e casa para arrumar, pois apesar de uma vida tranquila, sem cobranças, sem agressões, o rei não me dispusera nem mesmo um ajudante.
- Senhora Maeve! – Ouço uma voz me chamar.
Percebo que as pessoas aqui não sabem bem como se dirigirem a mim, sabem que sou esposa do rei, mas não estou ao lado dele, na verdade ele mal olha em minha face de vez em quando, isso causa confusão nos empregados do castelo.
Vejo uma empregada estranha, nunca a vi por aqui em todo esse tempo. Ele vem correndo na minha direção.
- O rei deseja falar com a senhora.
Se ele deseja falar comigo, por que não vem até mim. Não vivo a quilômetros de distância dele, pelo contrário, estou bem debaixo de seu nariz. Mas o que poderia fazer, se ele estava solicitando por minha presença, eu deveria seguir a empregada e ir ao seu encontro. Foi exatamente o que fiz.
Fui levada para uma parte bastante afastada do castelo que nunca havia ido antes, era um bosque desértico na parte de trás do castelo, mas bem distante dele, o castelo quase sumia de minhas vistas, mesmo ele sendo tão grande e imponente. Por que Sean quereria falar comigo aqui neste lugar desértico?
Ao pensar na pergunta, mesmo antes que a frase deixasse minha boca, virei-me para encontrar a empregada avançando sobre mim com uma adaga em suas mãos. Eu estava sendo atacada, mas por quê?
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