Um amor do outro lado do mundo

PONTO DE VISTA DE ElISA

Sempre me perguntei o que realmente era importante na vida. Dia após dia fico andando a noite na praia sentindo a brisa leve do mar soprando meu rosto e me perguntando, respectivamente, qual dia vou ter um minuto de paz ou felicidade em minha vida.

Ás vezes me sinto deslocada no mundo, nem mesmo toda a fama, conforto e sucesso que tenho com a minha vida de modelo me traz a sensação de satisfação própria que gostaria de sentir.

Sentada aqui com meus pés descalços, a areia em meus pés e o brilho das estrelas nessa noite tranquila e cotidiana do RJ me fazem querer um amor de verdade.

Elisa?

Olho pra trás e vejo quem me chama. Ninguém menos que Pedro, meu empresário. Fico me perguntando se ele não tem outra coisa pra fazer a não ser me importunar. faz tempo que o vejo com outros olhos, aquele ser que eu admirava se tornou alguém egoísta, alguém que passou a maltratar pessoas ao seu redor. Fiquei extremamente chateada e surpresa ao vê-lo sendo rude uma serviçal na minha residência, jogando água em seu rosto por não querer atender seu pedido e me acordar as 05:00 horas da manhã. Eu tinha passado mal duas noites consecutivas com uma forte enxaqueca e tinha pedido para não ser incomodada por ninguém.

Oi Pedro algum problema? Pergunto me levantando e indo até sua direção.

Ele me olha de cima a baixo e crava seus olhos nos meus. Eu sei que Pedro tem sentimentos por mim e sei também que ele alimentou uma grande magoa ao ser rejeitado, acho até que por esse motivo se tornou essa pessoa fria, calculista e sem coração que tenho que conviver hoje em dia.

Elisa, temos que resolver todas as papeladas e reservar sua passagem para china, você sabe que esse é um dos serviços mais importantes que temos e você já adiou três vezes esse compromisso.

Olho pra ele por alguns segundos antes de balançar minha cabeça e concordar que realmente não tenho mais como fugir da minha responsabilidade.

Ele continua me olhando como se quisesse falar algo, abre e fecha a boca duas vezes mas desiste no final. Eu agradeço mentalmente por não sair nenhuma palavra da boca dele. Ele se vira e sai sem olhar para trás.

Sento-me novamente na areia para admirar as estrelas. A verdade é que só concordei com esse contrato porque quero que esse seja meu último trabalho. Não me sinto mais motivada a continuar. Estou com 30 anos, sou morena, cabelos até a cintura, cintura fina, olhos grandes e delicados ao mesmo tempo e um corpo que causa interesse quanto se pensa na mulher brasileira..sou modelo fotográfica desde os meus 16 anos mas vejo como o tempo passou, ganhei dinheiro fiz meu nome no mercado nacional e internacional, mesmo com essa idade sou a mais chamada para fotografar para as grandes marcas, mas abri mão de viver uma vida, casar, amar e ter filhos pela correria do meu dia a dia..penso também em minha família o tempo que perdi ao ter que me afastar deles entre viagens e mais viagens. Como se minha irmã ouvisse meus pensamentos, meu telefone toca e me tira do transe que me encontro..

E ai mana? Como andam as coisas?

Olho para a tela do celular e não consigo segurar o sorriso que se forma em meus lábios.

Minha irmã sempre foi minha melhor amiga, assim como meu irmão que sempre esteve do meu lado.

Ligo para ela e no primeiro toque ela já atende o telefone.

Oi Luíza, como estão as crianças?

Ela começa a me contar os detalhes de como fica de cabelos em pé com os gêmeos Jorge e Ana que são umas verdadeiras pestes. Rimos por um tempo e isso me fez refletir que meu tempo para ter uma família estava passando mais rápido do que eu imaginava.

Elisa, o que houve? Porque ficou muda? Tento disfarçar minha voz embargada pelo choro preso na garganta mas sou infeliz na tentativa. Ela imediatamente sabe o porquê daquele choro e com apenas três palavras me faz sentir confiante novamente. VOCÊ SERÁ FELIZ!

Contei pra ela sobre a viagem, ela me perguntou como foi a reação do Pedro ao saber que esse seria nosso último trabalho juntos e ficou surpresa e um pouco preocupada ao me ouvir dizer que ainda não tinha contato com ele.

Toma cuidado irmã as pessoas não estão acostumadas a ser rejeitadas e foi com essa frase que ela se despediu.

PONTO DE VISTA PEDRO.

Honestamente não sei qual graça a Elisa sente em sentar na areia suja e olhar para as estrelas. Antes achava até fofinho, agora só sinto ódio pela rejeição e humilhação que ela me fez passar por não aceitar meu pedido de namoro. Para completar ela ainda me viu maltratar a secretária do lar dela, empregadinha insuportável, Elisa não atendia meus telefonemas a dois dias desde que me declarei a ela e como eu não me aguentava de raiva fui até a casa delas às 05:00 horas da manhã para verificar se a recusa não tinha haver com outro homem. O pior é que ela estava dormindo sozinha e ainda me passou um sermão por causa daquela empregada xereta.

.ELISA....

Levanto da areia e sigo meu caminho até minha casa que fica a menos de 100 metros da praia.

Sento na frente do meu computador e começo a pesquisar um pouco sobre o país que estamos prestes a viajar. Estou acostumada a viagens, porém nunca fui para o continente asiático e tenho que confessar que sempre tive medo. Ouvi e li coisas horríveis, desde as comidas até o racismo que alguns estrangeiros sofrem.

Fui contratada para fotografar para uma grande multinacional têxtil localizada em Pequim, que tinha em mente o seguinte lema - QUEBRANDO BARREIRAS. Pesquisei um pouco também sobre a empresa e me encantei com a forma de tratamento que era dado aos seus funcionários. No português claro queimei minha língua e passei a me interessar pela viagem.

Fiz a minha lista de exigências,não que eu fosse metida ou algo assim, mas queria muito meu conforto e também garantir a minha segurança já que falava pouco ou vamos ser honestos quase nada de mandarim.

Minhas exigências eram simples.Quarto de hotel em um local de fácil acesso, segurança e motorista particular fixos e um tradutor para que pudesse me acompanhar no meu dia a dia.

Meu voo está marcado para daqui a uma semana, seja o que Deus quiser.