Harriet Spencer poderia ser, de longe, considerada a garota mais sortuda do mundo. Ela é exatamente tudo o que todas gostariam de ser. Dona de uma beleza extraordinária, engraçada, inteligente, simpática e com uma língua afiada, ela encanta todos ao seu redor com sua sinceridade e sorriso. Tinha uma família amorosa, com uma mãe super protetora mas amorosa, um pai compreensivo, dois irmãos maravilhosos. Além disso, ela não era só a herdeira de uma fortuna incontável, mas também do trono de Aston, um grande país com influencia mundial. O único problema é que ela não queria nada disso. Não existia nada no mundo que Harriet prezava mais do que a única coisa que tinha sido negada a ela no mundo todo: sua liberdade. A princesa nunca tinha conseguido nem ver o mundo além dos muros do castelo, e toda sua vida era regulada por outras pessoas. Ela ansiava, sonhava acordada o momento em que poderia viajar, ver o mundo, conhecer novas pessoas. Mas sabia que no momento que subisse ao trono teria que deixar todos os seus sonhos para trás. Infelizmente a situação não está fácil em seu país, e existem revoltas por todos os cantos. Seu pai lhe da uma fagulha de esperança, se ela acalmasse a situação, poderia fazer faculdade em outro país, aonde poderia experimentar tudo que quisesse. Antes que Harriet percebesse, ela estava noiva, a caminho de colocar uma coroa em sua cabeça, e no meio de um caos para acalmar um povo revoltado. Mas a única coisa que importava era que ela poderia ir para o outro lado do mundo, experimentar sua primeira, e talvez única, sensação de liberdade. E é quando ela conhece Liam, um menino misterioso com um sorriso avassalador, que a faz repensar em tudo o que ela havia acreditado por toda sua vida.
Harriet Spencer poderia facilmente ser considerada a garota mais sortuda do mundo. Ela era invejada por todos e sempre querida pelos que a conheciam. Dona de uma beleza extraordinária, inteligência, simpatia, e de uma personalidade forte.
Também tinha uma família maravilhosa, Anthony, um pai extremamente inteligente e compreensivo, Nicole, uma mãe protetora, Harry, um irmão gêmeo amoroso, e Hannah, uma irmã de quase dois anos mais nova, que era praticamente perfeita em tudo que fazia.
Além de tudo isso, era a herdeira, não só de uma incontável riqueza, mas do trono de Aston, um grande país de enorme influencia no cenário mundial.
Seu pai era, ninguém mais, ninguém menos do que o rei Anthony George Harry Russel Spencer, casado com a duquesa de Bartô, Natalie Monique Beaufot Laviolette, que se tornou a rainha após o casamento. Para a felicidade do casal, eles tinham sido abençoados alguns anos após o casamento, não somente com um filho, mas dois, um lindo e saudável casal.
Para o azar de Harriet, ela tinha nascido sete minutos antes de seu irmão Harry. Sete minutos era o que tinha definido sua vida para sempre, não só dela, como de todo o seu país.
Antes de seu nascimento, somente filhos homens poderiam assumir o trono e, na falta de herdeiros do sexo masculino, uma mulher poderia assumir, desde que fosse casada com alguém de sangue real. Porém os reis consideravam uma injustiça o que tinha acontecido com sua primogênita, de modo que eles concordaram em alterar a lei para que Harriet assumisse o trono no lugar de Harry.
Aquilo, contudo, não era o que ela queria. Não existia nada mais que Harriet prezava mais do que a liberdade, a única coisa que ela não tinha. Nunca podia ver nada além dos muros do castelo, nada além de espiadas pela janela durante as aulas e caminhadas pelo jardim.
As únicas vezes que saiam era para eventos obrigatórios da realeza, como inaugurações de lugares importantes e desfiles. Nunca fora nem a um baile de outras famílias, nunca visitara outros reinos, esse era um privilégio que somente seu irmão e sua irmã tinham, afinal, não podiam se dar o luxo de perderem a futura rainha do país em algum acidente.
Harriet ansiava pelo momento em que ela poderia viajar pelo mundo, conhecer novas pessoas, novas culturas, deixar sua marca no mundo.
Só que ela sabia que esse dia nunca aconteceria, era constantemente lembrada disso, pelos seus pais, tutores e pelo próprio tempo, que passava cada vez mais rápido. Harriet completara recentemente vinte anos, o que significava que em breve ela teria que assumir o trono, assim que completasse vinte e um anos.
Harriet rolou na cama, querendo prolongar o sono, mas sabendo que seria impossível. Tinha certeza que havia alguma obrigação para o dia, alguma reunião, um evento, ou aulas intermináveis. Ela sempre tinha obrigações, e nenhum tempo para si mesma. "Princesas não descansam", sua mãe sempre falava.
Katherine, uma de suas damas de companhia, entrou no quarto segurando um vestido. Ela a observou pendura-lo, e ajeita-lo enquanto se sentava em sua cama.
- O que é isso? – Harriet perguntou confusa.
- Um vestido.
- Eu sei que é um vestido, mas ele é longo.
- Sim. – Kat assentiu pacientemente.
- Ele vai até os pés.
- Eu sei o que longo significa, alteza.
- Por que eu estou usando um vestido longo?
- Bem, tecnicamente, você está usando uma camisola.
Harriet revirou seus olhos, ficando um pouco impaciente, enquanto a dama de companhia soltava uma risadinha.
- Vai ter a recepção a família de Guinerva dentro de uma hora.
Harriet soltou um gemido como se tivesse sendo torturada. Logo após ergueu os olhos para o relógio em sua parede.
- Droga! Eu estou atrasada.
Ela saiu correndo para dentro do banheiro, enquanto a dama a seguia tranquilamente.
- Tenho certeza que sua mãe não aprovaria esse linguajar.
A princesa parou, na intenção de encarar sua dama, e com um sorriso muito travesso, disse:
- Eu creio que, como ela não está presente, não terá como descobrir. A não ser que a senhorita conte a ela.
- Assim está melhor.
Harriet correu para o banheiro, na intenção de tomar um banho rápido. Depois foi em seu quarto, e em uma velocidade impressionante, se vestiu, maquiou, e fez o cabelo, com a ajuda de Kat, obviamente.
Dentro de meia hora, estava pronta, e correndo pelos corredores gigantes do castelo, com seu salto fazendo um alto barulho batendo contra o chão de mármore.
Pra qualquer um que chegasse ao castelo, o acharia exuberante e enorme. Mas Harriet já conhecia cada canto do castelo como a palma de sua mão, já que o explorava junto aos seus irmãos, quando era mais nova. E depois de tanto tempo, o começara achar enfadonho, e não tão impressionante. Era frio e solitário, mesmo com tantas pessoas sempre passando de um lado para o outro, na intenção de servir a família real.
Harriet chegou ao salão de entrada, onde sua família já estava em fila, somente a esperando. Logo ela se colocou a direita de seu pai, e na esquerda de seu irmão gêmeo.
- Está atrasada. – Sua mãe lhe disse entredentes. – O que nossos convidados irão pensar?
- Nada, já que não estão aqui para testemunhar minha falta de pontualidade.
Harriet era conhecida por suas respostas rápidas e perspicazes. Não tinha nada que pudessem a dizer, que ela não respondesse a altura. Afinal, era uma jovem inteligente. Mas era algo que sua mãe desaprovava, ela sempre dizia que uma princesa não podia ter a língua solta, já Harriet acreditava que uma rainha sempre tinha que dar a última palavra.
- Mas poderiam estar. - A mãe retrucou, ficando impaciente.
- Duvido que sequer notasse, não fazem parte dos mais inteligentes da nossa espécie.
Anthony não conseguiu se conter e riu da declaração da filha, até porque era verdade. Já sua mãe, ficou tão furiosa, que seu rosto adquiriu um tom de vermelho.
- Harriet Violett Nicole Beaufot Laviolette Russel Spencer! – A rainha grunhiu.
- Sim? – A menina piscou os olhos com inocência.
- A rainha de Guiverva é minha querida amiga. E seus filhos são...
- Uns tapados.
- Harriet...
- Ora, mas são mesmo! Não importa quão próxima você seja da mãe deles, e quão adorável ela seja, isso não muda os fatos.
- Isso é verdade, mãe. – Seu irmão Harry foi a seu socorro.
A realidade era que, todos da família concordavam com a jovem princesa, mas diferente dela, ninguém gostava de contrariar a mãe. Ainda mais considerando que ela ainda tinha esperanças de juntar sua filha com o príncipe mais novo. Harriet lutava contra esse possível casamento com todas as suas forças. Apesar do príncipe Jonathan não ser tão ruim quanto seus irmãos, ela não queria se casar, nem com ele, nem com ninguém.
- Harry não comece você também. - Nicole falou, massageando suas têmporas.
- Por que? Por ele estar falando a verdade? - Harriet fez gestos exasperados. - Sabe mãe, pode existir pessoas com opiniões diferentes das suas.
- Eu sei, você sempre deixa isso bem claro. – A mãe rebateu.
- Nada como uma típica reunião familiar. – O pai murmurou.
- Eu só falo o que penso, achei que fosse isso que deveríamos fazer. – Harriet falou, impacientemente.
- Não quando magoa a pessoa a quem dirige o comentário. – Nicole disse.
- Eles não estão aqui, então não podem se magoar por eu simplesmente falar a verdade.
- Harriet, eu juro que...
- Que o que? Vai me castigar? Essa vida já é um castigo por si só.
- Não diga isso. – A mãe falou horrorizada.
Harriet foi salva, pela abertura das portas, anunciando a chegada dos convidados. Ela abriu um grande sorriso, e endireitou sua postura. Ao olhar para sua mãe, viu que ela estava rangendo os dentes, e com o rosto quase roxo.
- Cuidado, mãe. – Harriet falou, sem conseguir se conter. – Não vai querer que nossos convidados pensem que se intrometeram no meio de uma discussão familiar.
A mãe logo recuperou a postura. Seus irmãos seguraram o riso ao seu lado, mas Harriet nem se importou de esconder o seu. Aquilo não se passava de uma discussão habitual com sua mãe. A verdade é que as duas não conseguiam passar uma hora na companhia da outra sem discutir ou descordar.
A rainha de Guinerva entrou no salão. Ela era alta, negra, de cabelos cacheados. Uma mulher que inspirava poder, claro. Quando Harriet fez os comentários sobre a família, não incluía a rainha Mary nisso. Afinal era uma mulher forte que cuidava de seus filhos e do seu país. E apesar de fazer um ótimo trabalho com o último, a educação dos filhos deixava a desejar.
Ela logo veio em direção a minha mãe, ignorando os costumes de primeiro cumprimentar o rei. Mas ele não se importava, não de verdade, aquela era a melhor amiga de sua esposa e, além disso, ficava óbvio para todos que observassem que apesar de o rei vir primeiro na hierarquia, nesse caso, para Anthony pelo menos, a rainha estava em primeiro lugar.
Logo depois entrou o filho mais velho da rainha, acompanhado de sua esposa e uma criança. Depois veio as filhas do meio, as gêmeas, com seus respectivos maridos. E por fim, o príncipe Jonathan, que era apenas um ano mais velho que Harriet, e por algum golpe do destino, ou intromissão das duas mães, ainda estava solteiro.
- Lá vem seu noivo. – Harry cochichou no ouvido de sua irmã.
- Cale a sua boca. – Ela respondeu sem remover o sorriso.
- Pelo menos ele é bonito.
De fato, era. Se parecia muito com a mãe. Mas era mais alto, e com ombros largos e fortes.
- Mas me surpreende que consigam andar e respirar ao mesmo tempo. – Harriet resmungou, se referindo ao grupo se aproximando.
Seu irmão estalou a língua. Algo que se a mãe não tivesse tão ocupada conversando com a rainha Mary, teria repreendido.
- Sorte que as gêmeas estão casadas, senão eu já estaria na metade do caminho do altar para me casar com uma delas.
- Não fale isso. Todos sabem que ama a Tiana, e que o casamento de vocês está quase certo.
Harry tinha um relacionamento com a Tiana que, assim como Harriet, também era herdeira de seu trono. Eles nunca chegaram a declarar a união oficialmente, mas estava claro para quem visse, que iriam acabar juntos em algum momento. Eram completamente apaixonados um pelo outro.
- Não se você renunciar o trono. – Harry falou baixinho para que só ela pudesse ouvir.
Aquilo também era verdade. Como herdeira de seu país, Tiana não poderia casar com outro herdeiro. E se Harriet renunciasse o trono, o próximo na linha de sucessão era seu irmão. Não que ela levasse a sério isso, mas as vezes se pegava sonhando acordada, em como a vida poderia ser mais fácil se simplesmente desistisse. Mas a felicidade de seu irmão, era um dos motivos que faziam ela não seguir a diante, pois ela sabia que se a responsabilidade caísse em seu colo, seu irmão não desistiria, e assim nunca poderia ficar junto da Tiana.
- Não seja tolo. – Ela respondeu com uma voz insolente. – Eu não faria isso.
- Não mesmo?
- Claro que não.
Harry não pode rebater o quão aquilo soava falso pois os dois foram interrompidos, quando a rainha se dirigiu a ela, a cumprimentando. A princesa cumprimentou toda a família real com o máximo de educação possível, e prolongando a conversa, no intuito de postergar o inevitável. Se encontrar com o príncipe Jonathan.
Mas não tardou muito até que chegasse a vez dele de cumprimentar a futura rainha. Ele se aproximou, e Harriet conseguia ver em seu jeito de andar que ele estava ansioso com algo, nervoso até.
- É um prazer conhece-la, sua alteza. – Ele disse, fazendo uma reverencia, com a voz trêmula.
- Nós já nos conhecemos. – Harriet retrucou. – Há muitos anos inclusive.
Sua irmã e seu pai tentavam segurar a risada com todas as forças possíveis. Seu irmão não teve a mesma graça e começou a rir, alto. O que fez o príncipe ficar vermelho de vergonha.
- Me desculpe pela minha família. – A garota falou, apesar de ter um sorriso no rosto. – Eles podem ser um tanto...
- Adoráveis? – Harry tentou.
- Amáveis? – Hannah disse logo depois.
- Simpáticos? – O pai perguntou.
- Cruéis, é um termo melhor.
- Eu que me desculpo pela escolha de palavras. – O príncipe falou, ainda constrangido. – Eu quis dizer que é um prazer revê-la.
- Ah, claro. Poderia dizer o mesmo.
- Está muito... hã... bonita hoje, alteza.
Harriet ergueu as sobrancelhas. Não porque não fosse verdade, ela era de fato muito bonita. Tinha cabelos castanhos cacheados, e olhos azuis escuros grandes, seu rosto era redondo, e tinha um nariz empinado. E hoje, estava especialmente arrumada, com um penteado somente meio preso, e um vestido azul que realçava seus olhos.
Mas ouvir isso da boca do príncipe de Guinerva, era estranho. Especialmente porque, como ela, ele nunca tinha levado a sério a ideia de casamento, nem dava indicações de que estava interessado nela.
Tinha algo definitivamente estranho nele naquele dia.
- Obrigada. – Harriet falou, confusa. – Eu acho.
- Eu adoraria poder desfrutar de sua companhia. – Ele continuou. – Enquanto estiver aqui.
- Acontece que estou muito ocupada, com minhas responsabilidades. Certo, pai?
A garota se virou par ao rei, que estava se divertindo muito com toda a situação. Seus olhos azuis escuros brilhavam com divertimento, mesmo que, seu rosto se mantivesse sério. Ele colocou as mãos atrás das costas, e limpou a garganta de um jeito pouco elegante.
- Na verdade, esta semana você está liberada de seu trabalho, querida. Aproveite, você merece.
Ela lhe lançou um olhar de ódio, enquanto ele segurava o riso. Harriet se virou, com um sorriso adorável ao príncipe, pronta para achar outra desculpa para dispensá-lo.
- Poderíamos dar uma volta pelos jardins amanhã? – Ele perguntou.
- Na verdade...
- Ela adoraria, não é, Harriet? – A mãe lhe disse, em um tom que estava claro que não poderia recusar.
- É claro. – A menina respondeu. – Eu adoraria.
O príncipe abriu um grande sorriso, e com uma postura de vitória seguiu o resto da sua família ao salão de jantar. O rei e a rainha deram braço um ao outro e seguiram os convidados.
Na mesma hora que sumiram pela porta, seus irmãos caíram na gargalhada, enquanto ela cruzava os braços irritada.
- Vai ser uma noiva adorável, querida irmã. – Seu irmão falou, entre risadas.
- Eu ficaria deleitada em ser a madrinha. – Hannah disse. - Acho que já posso encomendar meu vestido.
Harriet estreitou os olhos para os dois, rangendo os dentes, enquanto os dois caiam na gargalhada.
- Hannah, pare, pare. Não devemos caçoar de nossa irmã. – Harry falou de repente. – E sem contar que, se ficarmos bem quietos, conseguimos ouvir os sinos da igreja.
Eles voltaram a cair na gargalhada.
- Vocês dois são os piores irmãos que eu poderia ter. Quando eu for rainha, terei o prazer de me livrar de vocês.
Isso só os fez rir ainda mais. Harriet seguiu para o salão seguinte, sem querer ficar mais um minuto perto daquelas duas pestes.
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