Marcas do Destino: O Alfa Oculto

A floresta parecia viva à noite, com o farfalhar das árvores e os murmúrios do vento trazendo uma inquietação no ar. Alina caminhava entre as sombras, sua presença poderosa e dominante atraía olhares e provocava silências. Seu cabelo branco platinado refletia a luz da lua como um halo etéreo, e seus olhos, de um vermelho ruby, vasculhavam o ambiente com precisão. A guerreira, líder do exército da matilha, era a encarnação de autoridade. Hoje, no entanto, o peso da liderança parecia mais pesado.

Dentro dela, Ava, seu lobo interior, rosnava impaciente. "Eles estão desperdiçando tempo, Alina. Podemos resolver isso sozinhas."

"Controle-se, Ava," ela respondeu em pensamento, mantendo o rosto neutro. "Não podemos agir precipitadamente."

Há semanas seu pai, o alfa supremo da matilha, estava desaparecido. Rumores de traição, segredos e um inimigo oculto rodavam como fogo selvagem. Alina não apenas liderava as buscas, mas também tinha que manter a ordem em meio ao caos.

No meio da multidão reunida na clareira, estava ele. Disfarçado. Lucian. O alfa de uma matilha distante, cujo poder era lendário, conhecido por sua força brutal e habilidades fora do comum. Há um motivo para estar ali: a ausência de seu pai não era obra do acaso. E, como o destino costumava agir, ele precisava se infiltrar, conhecer Alina e descobrir a verdade.

Dentro dele, Klaus, seu lobo interior, observava atentamente. "Ela é mais impressionante do que eu imaginava," Klaus murmurou, sua voz grave ecoando na mente de Lucian. "Mas você está hesitando. Por quê?"

"Porque ela é minha companheira," Lucian respondeu em pensamento, os punhos cerrados. "E ela não sabe disso."

Para Alina, no entanto, Lucian era apenas mais um rosto na multidão, completamente invisível em sua missão. Sua incapacidade de sentir o cheiro dele, uma anomalia que jamais experimentara, tornava-o um enigma. Mas para Lucian, o aroma dela era inebriante, uma mistura de poder, frescor e algo tão essencial quanto o próprio ar. Era insuportavelmente difícil se aproximar dela sem ser notado, mas hoje ele teria sua chance.

Alina bufou, irritada, enquanto os relatórios da patrulha chegavam a ela incompletos. Nenhuma pista do paradeiro de seu pai, e a pressão aumentava com as ameaças crescentes ao território. A clareira fervilhava de atividade, mas sua mente estava a mil.

- Ele não sumiria sem deixar rastros - murmurou, mais para si mesma do que para os outros.

- Talvez você precise de proteção mais próxima, minha lady - sugeriu um dos conselheiros ao seu lado, um homem velho com rugas profundas e olhar cauteloso. - Alguém que possa manter-se ao seu lado o tempo todo.

Ela estreitou os olhos para ele, sua postura imediata de desdém.

- Eu não preciso de babá, Andros.

- Com respeito, é uma medida prudente. Você lidera nosso exército e está no centro de todas as atenções. Uma sombra protetora poderia ser a diferença entre a vida e a morte.

Antes que ela pudesse rebater, uma voz surgiu, calma e confiante, vinda de sua esquerda.

- Se me permite, estou à disposição.

Alina virou-se para encontrar o dono da voz. Lucian. Alto, com cabelos negros como o breu que absorviam toda a luz, e olhos verde esmeralda que brilhavam com intensidade na escuridão. Havia algo na sua presença - não de intimidação, mas uma confiança tranquila, uma firmeza que a desarmava por um instante. Ele vestia roupas simples, de guerreiro, mas os traços de um passado indomável estavam ali, para quem soubesse observar.

- Quem é você? - Alina perguntou, sua voz carregada de autoridade.

- Lucian, minha lady. Sou um exilado em busca de redenção. Jurei minha espada à sua matilha e a você.

Dentro dela, Ava rosnou em alerta. "Cuidado com ele, Alina. Algo não está certo."

Ela arqueou uma sobrancelha. - Um exilado, é? E o que o faz acreditar que pode ser meu guarda?

Ele inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos fixos nos dela com uma intensidade perturbadora.

- Porque sou invisível quando preciso ser, e mortal quando é necessário.

Klaus soltou uma risada baixa dentro de Lucian. "Audacioso. Mas ela vai testar você."

Houve um momento de silêncio, e, antes que ela pudesse responder, Andros interveio.

- Ele é qualificado, minha lady. Um lutador habilidoso, treinado em diversas táticas.

- Muito bem - Alina disse, franzindo a testa. - Prove. Você assume minha proteção. Mas não pense que ficará parado. Vou te colocar à prova.

Lucian sorriu levemente, inclinando a cabeça em agradecimento.

Enquanto a noite se desenrolava, Lucian a observava em silêncio, cada movimento dela era estudado. Seu disfarce era essencial, mas era muito mais difícil do que ele imaginara. Estar perto de Alina era como encarar o sol. Ela era brutalmente bela, de uma forma que feria. Mais do que isso, ela era sua companheira. E ela não fazia ideia.

"Você está pensando demais," Klaus alertou. "Lembre-se do porquê estamos aqui."

"Ela é o porquê," Lucian respondeu, os olhos fixos nela. "Mas primeiro, preciso protegê-la. Depois, talvez, ela saiba a verdade."

Dentro de Alina, Ava parecia inquieta, como se sentisse algo fora do lugar. "Ele é diferente. Mas não consigo dizer por quê."

Lucian continuava perdido em seus pensamentos, tão absorto que sequer percebeu quando Alina surgiu atrás dele, movendo-se com a graça de uma predadora sob a luz do luar. Ela o observou por um momento, seus olhos vermelhos escarlate avaliando-o com frieza e curiosidade. Então, sem aviso, ela o encostou contra a parede mais próxima.

A surpresa o atingiu como um raio, mas antes que pudesse reagir, a voz dela sussurrou em seu ouvido, suave como seda, porém carregada de um tom mortal:

- Lucian, se pensa em ser meu guarda pessoal, precisa melhorar e muito. Não conseguiu nem me ver chegando, imagina um assassino... Estou começando a duvidar de suas qualificações.

A proximidade dela era devastadora. O perfume de Alina, mesmo que ela não pudesse sentir o dele, parecia envolvê-lo completamente. Lucian sentiu seu corpo estremecer, e algo dentro dele - e abaixo - reagiu de forma incontrolável. Seu autocontrole estava por um fio.

Klaus gargalhou dentro de sua mente. "Ela sabe como te testar, hein?"

Enquanto ela falava, Lucian não conseguiu se concentrar em suas palavras. Sua mente estava ocupada demais com o quanto ela era inebriante, com o quanto queria puxá-la para si e beijá-la ali mesmo. Mas ele sabia que não podia. Não ainda.

- Entendido, minha lady - ele respondeu, finalmente, sua voz rouca e baixa. - Vou me esforçar mais.

Ava murmurou dentro de Alina. "Ele é interessante, admito. Mas precisa ser mais do que interessante."

Alina recuou lentamente, os olhos ainda fixos nos dele. - Vou cobrar isso, Lucian. Espero que não me decepcione.

E com isso, ela se afastou, deixando-o sozinho sob a luz da lua, tentando recuperar o controle de sua respiração e da tempestade que ela havia deixado para trás em seu corpo e mente.

E assim, o alfa mais poderoso, escondido sob uma identidade falsa, tornou-se a sombra protetora da mulher que podia ser sua queda ou salvação.