Ele queria apenas uma barriga de aluguel. Mas teve de se contentar com tudo que ela tinha a oferecer. Ela era a escolha certa!
Camila entrou na clínica médica em que tinha convênio médico, quando estava empregada, e deu o seu nome para a recepcionista, que a indicou o último andar do prédio.
Trabalhara em um centro terceirizado de contabilidade. Mas fora demitida por não ceder as investidas de um dos sócios. Sentiu-se muito injustiçada, mas não pode fazer nada contra os "poderosos". E pensar que até tentou pedir ajuda para a esposa do tal sócio, mas a mulher a humilhou. Agora estava ali para uma... entrevista.
Aguardou em uma sala, até seu nome ser chamado por uma voz firme e áspera.
Camila entrou e sentou-se em frente ao homem engravatado no enorme escritório.
O homem de pele morena e olhos escuros a encarou a fazendo sentir-se tonta. Era um belo e imponente homem.
- Camila Ferreira Antunes, certo? - Camila acenou em concordância, enquanto recuperava a voz. Estava curiosa para entender como a chamaram para uma entrevista em uma cede de um centro médico, se ela não havia enviado um currículo. Muito menos tinha formação na área da saúde. Mas o desespero de estar desempregada há mais de 3 meses, a fez ir sem questionar. - Sabe porque está aqui?
- Entrevista de emprego? - Diz em tom de pergunta.
- Entrevista. - Bernardo responde sério.
- Certo... - Camila franze o cenho. Entrevista? De emprego? Certo?
- Preciso de uma pessoa com as suas qualificações. - Camila assente, pensando em quais qualificações mais especificamente.
- Quais exatamente? - Questiona cautelosa.
- Preciso de um filho e quero que seja a pessoa que o geste.
- O QUÊ? - Camila pula da cadeira, se pondo de pé. De todas as possibilidades, essa não era nem de longe um mero pensamento.
- Sente-se por favor. - Bernardo pede por entre os dentes.
Bernardo estava num emaranhado de sentimentos. Sempre foi um homem correto, um homem honesto e leal. Mas há cerca de dois anos, ele era além disso o homem mais feliz do mundo. Tinha uma mulher, a quem amava, e estava esperando um filho dele. Estava mais do que realizado. Mas isso foi-lhe tirado sem quê, nem porquê!
Nesse momento, ele só pensava em recuperar um pouco da sua vida. Um pouco da sua sanidade. E só consegui pensar no pequeno bebê. Afinal, outra mulher, ele nunca aceitaria! E aquela mulher a sua frente, era exatamente o que ele precisava. Saudável, bonita, pobre, e completamente diferente de Elisa, sua falecida esposa.
- Você deve ter me confundido com outra Camila, eu não quero ter um filho!
- Sente-se! - Bernardo ordena, exasperado e sem paciência. Camila ainda com o rosto em choque se senta. - Não precisa ser a mãe dessa criança, quero apenas que a geste.
- Pirou! - Camila ameaça a rir. - Bernardo trava os maxilares, pensando em como ela podia ser tão irritante em tão pouco tempo.
- Escolhi você dentre várias mulheres...
- Peraí, peraí... várias?
- Você era a 50º. - Diz sem emoção. Ela era só uma qualquer dentre vários nomes. Mas a que melhor se encaixava. A que mais parecia que aceitaria tal proposta.
- Uaau! - Camila ri. - Que lisonjeiro. Então as outras todas negaram?
- Não as chamei, você é a única. - Diz perscrutando o belo rosto da jovem. A escolheu pelos cabelos louros e os olhos azuis. Elisa era negra, cabelos pretos e cacheados. E ele queria poder olhar para a criança e não se lembrar dela. Mas ele queria alguém que fosse parte dele, para amar.
- Porquê? E como conseguiu meus dados? - Camila estava ficando com medo do homem. Ele era sério e a voz dele estava soando assustadora.
- Sou dono deste hospital, peguei os dados pelas consultas e exames. Os seus como o de outras estavam entre os melhores.
- Mas porque eu? Não tem 50 aí na minha frente? - Camila questiona começando a achar que caiu numa pegadinha do domingo legal.
- Você é de longe a mais bonita... - Camila ergue as sobrancelhas, então ele conclui. - E a mais pobre. - Camila solta uma risada alta.
- Nossa, você não sabe mesmo elogiar, não é? Mas vou me apegar ao bonita... - Faz um gracejo, começando a achar a situação inusitada, engraçada.
- Você fez exames demissionais há três meses, e pelas minhas pesquisas, está com o nome sujo... ou melhor, imundo. A casa está com iptu atrasado, luz cortada, água pendente, internet pega do vizinho, e vem fazendo faxinas para se sustentar. - Camila abre a boca incrédula.
- Quem te deu permissão para invadir a minha vida? - Ela quase grita com ele. Camila estava ainda ser crer nas coisas que ouvia. Entre a vontade de rir e se indignar, ela tentava manter a calma para não estapeá-lo.
- Ofereço um milhão de reais. - Camila abre a boca e arregala os olhos, completamente estarrecida. Ela precisava muito do dinheiro. Por um breve momento se viu quitando a dívida da casa, pagando as contas, comprando um carro...
- Um milhão... - Repetiu em um sussurro, ainda em transe. Mas então voltou a realidade, piscando algumas vezes. - Porque não contrata uma barriga de aluguel, profissional? - Não fazia sentido contratar uma desconhecida.
- No Brasil é proibido e não quero sair do país no momento. Preciso administrar as clínicas...
- E como planeja fazer isso aqui? - Ela pensava em como o homem faria para lhe pagar, se não pode pagar uma barriga de aluguel no país.
- Nos casaremos, até porque meus pais nunca aceitariam uma ideia como essa... - Camila sente o coração disparar. Esse homem não batia bem da cabeça, mesmo.
- Eles tem juízo. - Diz, começando a rir, então vê o homem a olhar com uma cara feia, e fecha a boca.
- Ficaríamos casados uns 3 meses, então faríamos a inseminação artificial, ficamos juntos até o bebê nascer, então nos separamos, eu fico com a guarda, e você pode ver o bebe de vez em quando se quiser. - Bernardo finaliza e olha a moça de olhos arregalados e a boca aberta em descrença. - Se você aceitar claro. Darei todo o acesso médico, dinheiro, suporte ... - Tenta continuar, mas ela o interrompe.
- Você está completamente louco!
- Você precisa do dinheiro! Vai morar debaixo da ponte? - Ele questiona estreitando os olhos e Camila retorce a boca. Ele não podia perdê-la. Sabia que era ela no momento em que pegou a ficha. Tinha de ser ela a mãe do sue filho.
- Você é muito baixo, sabia?
- Na verdade. - Ele afasta a cadeira para trás e se ergue. - Eu tenho 1,95 de altura. - Ergue as sobrancelhas e Camila o avalia dos pés a cabeça. Bernardo sente o membro endurecendo na calça e engole seco. Quis intimidá-la, mas ele quem se surpreendeu com a sua própria reação ao comentário dela.
Com um meio sorriso Camila diz.
- Eu adoraria fazer um filho com você. - Bernardo trava os maxilares e engole seco. Camila deixa escapar o pensamento em voz alta. Ele era realmente de tirar o fôlego. Os ombros largos, a cintura mais fina, as pernas bem torneadas aparecendo nas calças sociais.
- Então temos um acordo? - Ouviu-o e voltou ao momento presente.
- Não! - Quase grita ao vê-lo sentar-se.
- O que você quer para aceitar? - Bernardo altera a voz. Estava se estressando com essa mulher.
- Qual a sua idade? - Camila encara o rosto sério do homem.
- Não interessa. - Camila cruza os braços.
- Se precisa de mim, vai ter que cooperar.
- 38. - Bernardo responde fechando os punhos.
- Eu tenho 27. - Camila diz e Bernardo não desvia os olhos dela.
- Eu sei. - Camila suspira.
- Quero uma relação de verdade. - Bernardo franze o cenho.
- Isto está fora de cogitação. - Era só o que faltava!
- Por que? - Camila não conseguia pensar em ser só uma barriga. Ela era ela completa.
- Não quero um relacionamento.
- Nesse caso... - Camila se levanta.
- Porque quer uma relação comigo? - Bernardo brada. - Eu sou egoísta, rude, não sei elogiar como você mesmo disse. A única coisa que tenho é o dinheiro. - Ele se deprecia, porque era o que realmente sentia e acreditava. Ele só tinha dinheiro.
- Para que quer um filho então? - Camila vê o homem passar as mãos no rosto e suspirar.
Ele estava cansado, parecia que a vida a sua volta o sugava. E naquele momento nada o fazia conseguir voltar a viver, voltar a respirar sem aquele peso no peito.
- Perdi um filho... - Camila volta a se sentar.
- Quantos anos?
- Não havia nascido ainda.
- E a mãe do bebe? - Camila pensa em como ele podia ser tão insensível em deixar a mulher apenas por perderem o filho.
- Ela faleceu no parto. - Bernardo a odiava por fazê-lo se abrir. Ele queria apenas uma barriga. E agora o turbilhão que ele vinha controlando, esta prestes a transbordar.
- Sinto muito... - Camila mareja os olhos e Bernardo endurece com a pena que vê nos olhos dela. Não precisava de pena. Ele mesmo sentia pena dele o suficiente.
- Então? - Limpa a garganta engolindo a tempestade que quer sair.
- Não posso ajudá-lo. - Camila se ergue novamente. - Apesar de eu ser uma lascada financeira, nunca me venderia, nem por um bilhão de reais. - Bernardo encara os olhos tão azuis como o céu e se impressiona com a sinceridade que vê ali. Ele esperava ela dizer que queria mais dinheiro, fama, propriedades, mas por essa ele não esperava. - Eu nunca poderia gestar um bebê e depois entregá-lo, contando em vê-lo quando me permitissem.
- Podemos fazer guarda compartilhada! - Bernardo tenta. Afinal com dinheiro, ele poderia ter a guarda total. Só precisava convencê-la. - Camila sorri compadecida.
- Eu sei como sou. Uma romântica incurável. E a vida não é como um livro ou conto de fadas, em que você se apaixonaria por mim ao final dos 9 meses. Eu ficaria arrasada, e nunca me recuperaria. - Bernardo a encara de cenho franzido. - E eu sei, que me apaixonaria dia após dia, vendo o senhor cuidando da barriga que seria o seu filho. - O homem engole seco tamanha sinceridade da moça.
Com isso, Camila anda até a porta e vai embora.
Bernardo fica paralisado.
Sua vida sempre foi "fácil", a clínica já existia há três gerações. Ele só seguiu o que precisava seguir. Seus pais, nunca foram os mais amorosos, mas o educaram bem. Quando encontrou Elisa, sentiu-se realmente útil e realizado na vida. Com a partida dela e de seu filho. Ele sentia que não tinha mais nada.
Ele queria uma mãe para o seu filho. Não havia pensado em como essa mulher se sentiria. Isso não importava. Ele queria um filho só para si. Franziu o cenho e fechou os olhos. Existia um outro lado e ele precisava repensar isso.
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