Ana, uma garota do interior sempre muito estudiosa e inteligente, que foi levada a crer pelo meio em que vivia a não ser possível realizar os seus sonhos. E quando Santiago entra em sua vida, um garoto rebelde e indomável, uma faísca de esperança brilha em seu interior. E em meio a um turbilhão de emoções e o desfrutar de novas experiências vai deixando de ser uma menina para dar entrada em uma nova fase de sua vida, a adulta.
- Filha, esse é o seu último ano no colégio, e você sabe que tudo que podíamos fazer por você nós fizemos, e infelizmente não temos condições de pagar a faculdade para você... - A garota nada respondeu. Com a boca cheia continuou mastigando o pão com manteiga. E, com seus grandes olhos abertos, cor de mel, estalados, encarou a mãe enquanto fazia sinal com a cabeça em um gesto de afirmação.
Ela sabia. A mãe sempre a prevenira sobre isso.
Sentiu como se um nó na garganta impedisse que o alimento escorregasse. O fato de saber que os pais não poderiam pagar uma faculdade não tornava as coisas mais fáceis. Era o que ela mais queria, estudar. se formar...
Mas era um sonho impossível!
E naquela manhã enquanto caminhava sozinha rumo ao colégio se perdeu em seus pensamentos.
Era justo? Era justa a vida que levavam?
Desde que se entendia por gente via seu pai trabalhar para trazer o sustento. Mal tinha tempo para a família. Saindo sempre muito cedo e voltando tarde da noite o operário da única fábrica da pequena cidade de 5.000 habitantes.
A mãe conciliava os afazeres domésticos, os cuidados com as filhas e uma faxina aqui ou ali para ajudar nas despesas. Tudo para que tivessem uma vida digna.
E por mais que fizessem todo o esforço possível nunca foi o bastante para que pudessem viver sem que precisassem economizar um único dia.
Não! A vida não estava sendo nenhum pouco justa!
E então Ana se transportou para o mundo imaginário, um mundo que era só dela, o mundo para onde fugia sempre que quisesse florear sua dura realidade.
E voltou ao mesmo instante em que tomavam o café da manhã.
- Filha, - Ouviu a mãe dizer. - Você sabe que a nossa condição não permite que paguemos para que estude em uma universidade. - Ela afirmando com a cabeça. - Pois, a partir de agora é com você. Já é praticamente uma mulher. É inteligente e capaz, você pode vencer na vida e deve vencer por conta própria. Eu confio em você, nós confiamos em você. Você pode realizar todos os seus sonhos, só precisa acreditar, trabalhar e correr atrás...
Ana sentiu-se mais leve por imaginar como a conversa com a mãe poderia ter sido diferente. Aquilo era tudo que precisava ouvir para se manter firme e forte. Sempre soube que os pais não poderiam ajuda-la a continuar com os estudos. Mas ela nunca quis fazer uma faculdade particular naquela cidade minúscula. Seu verdadeiro sonho era passar no vestibular, cursar em uma faculdade pública, sair dali. Conseguir um trabalho, se sustentar e vencer na vida por honra e méritos próprios.
Mas...
Sua mãe tinha razão! Estava na hora de encarar a realidade, realizar os seus sonhos era impossível. Não seria capaz!
E foi então que Ana resolveu assumir o seu destino.
Já era uma mulher, 17 anos. Aquele era o seu último ano vivendo as custas de seus pais. Já estava mais do que na hora de parar de sonhar. Era necessário encarar a vida como ela é, difícil!
A decisão estava tomada.
A partir daquele dia não mais fugiria para o seu mundo imaginário onde no futuro a vida lhe dava oportunidades para realizar os seus sonhos. Ser feliz sendo uma mulher de sucesso, forte e determinada. Bastava! Isso jamais aconteceria! Apenas sonhos de uma criança que acabava de crescer, amadurecer...
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