- Você matou meu irmão? - pergunto retoricamente. - Matei? Pergunte a ele. Oh, é verdade, os mortos não podem falar. - zomba. E foi assim, que o homem por quem me apaixonei, mostrou sua face fria e cruel e talvez sua verdadeira forma de ser. Eu me apaixonei pelo meu inimigo, e agora?
Rebeca
Eu ri enquanto limpava minha mão suja. Valerius, meu melhor amigo, estava fazendo alguma piada de mau gosto sobre a nossa atual situação e eu não pude deixar de rir, ele sempre faz isso e eu sempre rio, já é uma coisa nossa.
- Eu sei que a minha piada foi de matar. - diz convencido.
Mais uma vez eu rio e coloco a arma no coldre.
- Tenho certeza que o morto também concorda, uma pena que ele não teve a oportunidade de ouvi-la também. - digo.
- Você sabe que esse tipo de coisa cai bem nessa situação. - dá de ombros.
- Você é bizarro, com esse seu gosto estranho para piadas sobre morte e trocadilhos sempre que concluímos um serviço. - rebato.
- É meu charme. - declara despreocupado.
Valerius Benu, ou Ben, como eu costumo chamá-lo, é meu melhor amigo desde sempre, não lembro de algum momento da minha vida em que ele não estivesse por perto. Crescemos juntos, e trilhamos o mesmo caminho até agora. Eu venho de uma família de assassinos profissionais, pegamos todo tipo de trabalho desse gênero, eu sou a segunda mais velha da família e embora meu pai quisesse que eu casasse por uma aliança para fortalecer a posição da nossa família, desde cedo tratei de mostrar enfaticamente que eu não tinha a intenção de ser dominada muito menos vendida para ser uma esposa troféu. Nenhum filho da puta vai mandar em mim e esperar que eu sorria alegremente com suas merdas. Não, eu mando em mim.
Quando tinha dez anos, deixei claro que não tinha a intenção de casar por contrato, meu pai pensou que seria uma boa ideia me convencer do contrário e chamou um amigo que tem um filho para que eu tivesse a oportunidade de conhecer meu futuro marido e sogro, fiz questão de deixar bem claro na frente deles a minha opinião e quando o merdinha que era mais velho que eu quatro anos, tentou me forçar, eu quebrei o seu braço sem pestanejar. Foi muito satisfatório vê-lo chorando de dor enquanto eu pisava em seu rosto. Foi assim que meu pai descobriu que eu treinava escondida de todos e também estudei anatomia cuidadosamente, cada pequena informação que eu pudesse usar, eu coletei e treinei incansavelmente. Quando eu ameacei matar a próxima pessoa que ele trouxesse, ele soube que eu não estava brincando, com a ajuda do meu irmão mais velho, Roderick. Consegui que ele me deixasse treinar junto dos recrutas, eu sempre soube que eu queria ser assassina e não me arrependo disso, foi a melhor decisão que eu tomei, a minha vocação é matar. Sim, eu sou uma pessoa totalmente fora do comum, talvez insana, eu gosto do que faço e aproveito cada minuto disso.
- Acho melhor sairmos agora, a segurança não vai demorar. - aviso olhando o cronômetro.
Nosso alvo de hoje, era um homem muito influente e rico, o serviço foi solicitado por sua esposa, que estava cansada de seus abusos e traições, basicamente, ele era um porco traidor e que batia nela e nas filhas. Confesso que me senti muito satisfeita ao vê-lo morrer em agonia. Ela foi muito específica quando solicitou que ele fosse estrangulado com um garrote cheio de lâminas e que soubesse porque estava sendo morto daquele jeito. Depois de pegar as informações necessárias e aproveitando que ele gosta muito de espancar garotas de programa, me disfarcei e fiz isso. No momento em que Ben entrou no quarto vestido de garçom, colocamos nosso plano em ação. Enquanto ele estava sendo imobilizado por Ben, tomei todos os cuidados necessários para não deixar nenhum rastro para trás, fui até ele e depois de fazer como a cliente pediu, matei o desgraçado, agora, terminamos de limpar qualquer possível vestígio da minha presença aqui e depois de limpar o sangue restante das minhas mãos e me vestir adequadamente, deixei o desgraçado para trás e saí do quarto com um sorriso no rosto e meu amigo ao meu lado, e claro, alguns milhares de dólares mais rica.
Eu amo meu trabalho.
- Acho que isso pede uma comemoração. - murmuro.
- Eu estava pensando a mesma coisa. Afinal, trabalhamos muito para matar aquele velho. Tivemos que alterar as câmeras do hotel, limpar a cena toda e ainda fazer tudo isso em menos de uma hora. Me sinto um pouco esgotado e nada melhor do que beber até cair. - Ben diz.
- Concordo. Temos que aproveitar também, não faltam muitos dias para a nossa partida. Roderick vai casar em algumas semanas e eu vou assumir seu cargo enquanto estiver fora na lua de mel. Eu vou sentir falta de Milão. - suspiro só de pensar em deixar o lugar que morei por anos.
- Eu sei, querida. A vida aqui é bem mais divertida, mas você precisa fazer isso por enquanto, nem vai demorar tanto, quando menos esperar, já vai ter passado e estamos voltando para cá. - me consola.
- Assim espero. O que quero agora é me divertir um pouco. - dou batidinhas nas minhas bochechas e sigo em frente para o nosso carro.
Dirigimos até uma balada que costumamos frequentar. Sinto uma vontade imensa de aproveitar o máximo que eu puder desse local, tenho um pressentimento sobre a minha viagem para New York, algo me diz que algo grande vai acontecer lá e que talvez as coisas não saiam do jeito que imagino.
Quero ignorar esse sentimento aterrador e apenas pensar no presente.
A música estava alta, havia pessoas por todo o lugar, a pista de dança estava cheia e como eu não estava disposta a enfrentar toda aquela multidão sóbria, procurei por uma bebida forte, tequila é a melhor opção hoje e depois de quatro shots, já senti que estava mais solta e animada, um mundo parecia estranho e meus passos estavam leves, mas isso só me deixou com um sorriso no rosto. Ben estava agarrado com uma mulher e eu soube imediatamente que vou ficar sozinha nesse lugar em poucos minutos. Como era de se esperar, ele foi rápido em encontrar alguém, é melhor eu fazer o mesmo se quiser companhia, é claro, não serve qualquer idiota bêbado, eu preciso de um homem de verdade que só de olhar, eu tenha total certeza que vai me satisfazer, caso contrário, eu posso matar mais alguém se ficar frustrada sexualmente.
Será algo bastante desagradável de se ver.
Sim, eu sou louca e um pouco volátil.
Me infiltrei na pista de dança deixando meu amigo para trás, dando total liberdade para fazer o que quiser. Nunca procuramos esse lugar para apenas beber, quando um de nós encontra alguém interessante, o outro se afasta imediatamente, assegurando que não há problema nenhum em ficar sozinho no lugar.
Dancei alegremente, sentindo as batidas da música se infiltrar nos meus ossos, em um dado momento, alguém tocou meu quadril com mãos desajeitadas e eu soube imediatamente que se tratava de um bêbado ou qualquer outro idiota, virei meu corpo e vi um cara sem graça na minha frente, ele sorriu maliciosamente quando me viu e tentou me apertar contra ele, resisti e continuei a avaliá-lo cuidadosamente, do que eu conseguia ver com as luzes piscantes da pista, ele é um cara bonitinho, eu diria. Não tem nada que chame a minha atenção, suas mãos são desajeitadas, seu cabelo está irritantemente penteado, sua camisa está fechada até o penúltimo botão, seu sorriso me irrita de alguma forma e a pior coisa, ele é menor que eu. Sinceramente, se o cara não for maior que eu quando estou usando saltos, não vale a pena. Eu gosto de caras grandes, maus, com cabelos bagunçados, como se tivesse acabado de acordar, camisas abertas mostrando um pouco do peito e tatuagens.
Sim, eu prefiro os maus e errados. Eles são mais divertidos e me pegam de jeito e é disso que eu preciso agora. É esse tipo de cara que estou procurando, não um carinha sem graça como esse de agora.
Assim que a música terminou, me afastei sem dizer uma palavra, nem vale o meu tempo dispensá-lo adequadamente, espero que ele perceba a minha falta de interesse.
Infelizmente, parece que ele não entendeu minha mensagem e me seguiu como um cachorro até o bar. Revirei meus olhos quando o vi na minha frente com o mesmo sorriso idiota de momentos atrás. Será que ele não percebe que não estou nem remotamente interessada nele?
Escaneei o lugar em busca de alguém que valha a pena o meu tempo, na área VIP, no andar de cima, um homem olhava o movimento e eu sorri maliciosamente ao ver que ele faz o meu tipo. Ele parece uma boa escolha para essa noite, pode ser divertido.
- Aceita uma bebida? - o homem irritante pergunta.
- Não, obrigado. - rejeito sua oferta imediatamente.
- Vamos lá, gostosa, aceite a bebida, ou, podemos sair daqui e nos divertirmos em outro lugar? - oferece.
Sua mão está no meu quadril e se dirigindo para a minha bunda, sinceramente, seu toque é irritante e eu quero arrancar suas mãos por me tocar sem permissão, mas eu não quero fazer uma cena desnecessária e perder meu acesso a esse lugar, eu gosto de vir aqui.
- Eu não quero nada de você. Você não faz o meu tipo, é irritante até olhar para você, e se continuar me tocando, eu vou cortar as suas mãos fora. - aviso.
Seu semblante muda imediatamente e ele agarra meu braço.
- Você é só mais uma vagabunda arrogante. Eu devia te dar uma lição. - rosna.
Com minha mão livre, agarrei suas bolas e apertei com força. Ele me soltou imediatamente e fez uma careta de dor, puxei mais um pouco e me aproximei dele.
- Faça isso, eu vou adorar arrancar suas mãos e seu pau imundo, vai ser realmente divertido. Eu vou esperar por isso. - aviso e largo suas bolas. Ele cai ajoelhado e eu me afasto deixando os olhares e murmúrios para trás.
Agora é hora de buscar o homem que eu quero.
É claro, isso foi até chegar na metade do caminho e encontrar um homem muito melhor. Alto, tatuado, vestido de preto da cabeça aos pés, cabelo escuro reluzente e despenteado, alguns fios desgarrados caindo na testa, a barba espessa e bem cuidada. Com certeza, é o homem mais lindo que eu já vi.
Tem que ser ele ou não me chamo Rebeca.
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