Melissa é uma jovem que ao completar dezoito anos recebe uma herença de família em forma de presente, mas ela não sabia o quanto este simples presente mudaria sua vida. A cada trezentos anos uma entidade malígna, um deus que foi exilado nas travas, retorna à Terra através de um portal que cresce e regride de acordo com as fases da lua. O ser deve ser aprisionado em sua dimensão antes que o portal se feche e aquela que deve realizar este feito é Melissa. Em meio a árdua missão de aprisionar o ser malígno, a jovem terá que superar obstáculos, resistir a perdas e reaprender a amar. Melissa será capaz de cumprir seu objetivo, mesmo com tantos impecílios em seu caminho?
Pela manhã, Melissa costumava encontrar o pai na cozinha tomando seu chá, mas ela não o encontrou. Questionando-se o que poderia ter acontecido, a jovem foi até a oficina onde o homem trabalhava.
- Pai? Já está aí? – Abriu lentamente o parta que rangia com o movimento, o interior estava meio escuro, porém iluminado pelo fogo da forja.
- Oi, minha filha, já. Tenho muito trabalho a fazer e tenho que parar cedo hoje. Sua avó e seus primos vão chegar logo e temos que preparar tudo, afinal, hoje é o seu dia, não é? - Ele respondeu com um sorriso no rosto.
- É papai, é meu dia, sim. Precisa de ajuda? - Melissa estava ansiosa por este dia: seu aniversário de 18 anos.
Sua família materna tinha uma tradição na qual ela não entendia a importância, mas se era importante para sua amada mãe, então seria importante para ela também.
- Hoje não, querida. Pode ir para os seus exercícios matinais e quando voltar, não precisa vir para cá como você costuma fazer. – O lugar já começava a esquentar e o cheiro de fumaça enchia o ar, embora tivesse uma chaminé.
- Tudo bem, então. Se precisar é só me chamar. - Ela se aproximou do pai, lhe deu um beijo na bochecha suada e saiu.
Ela caminhou até o celeiro, onde seu cavalo cor de caramelo costumava passar a noite, o pegou e se dirigiu ao campo onde se encontrava com Nicolas, seu amigo desde a infância e namorado há dois anos, para os treinos todos os dias de manhã. Ela era muito habilidosa com arco e flechas e tinha começado a ensinar Nicolas. Ele por sua vez, era ótimo com a espada e estava ensinando Melissa como utilizar a arma. A jovem estava achando difícil, pois a mesma era pesada e ela tinha dificuldades para empunha-la.
Ao chegar ao campo, avistou-o deitado na grama, como sempre fazia quando chegava primeiro.
- Já dormindo, seu preguiçoso. - Ela gritou com falsa indignação, as mãos na cintura e um sorriso que ele adorava.
- Mel! – O rapaz deu um pulo, fingindo ter se assustado, e a gargalhada que saiu da garganta da namorada, o deixou encantado.
- Deixa de ser bobo, Nick, vamos começar. Não posso demorar muito hoje. Você sabe por que, não é? - Ela disse enquanto pendia a cabeça de lado esperando a resposta dele.
- Eu deveria saber? - Ele coçou a cabeça e olhou para o alto. – Ah, espera! Estou lembrando de uma coisa. - Ele se aproximou dela, a abraçou e a beijou. - Feliz aniversário, Mel, como eu ia esquecer? Aliás, você sabe que eu vou falar com seu pai hoje, não é?
- Eu sei e estou ansiosa, mas para de moleza e vamos começar logo.
No ano anterior, Nicolas pediu a mão de Melissa em casamento, mas seu pai negou, dizendo que só permitiria quando a filha fizesse dezoito anos. E com a chegada de seu aniversário, ela estava ansiosa pelo pedido.
O lugar que estavam era lindo: um campo que separava a aldeia da floresta. Eles usavam as árvores como alvos para treinar arco e flechas. Nos cantos do campo tinham canteiros com flores silvestres coloridas que Melissa adora fazer um pequeno buquê e levar para casa de vez em quando para perfumar o seu quarto com um doce aroma selvagem. E neste grande dia, elas estavam lindas e coloridas, e Melissa as usaria para alegrar seu quarto.
No fim do treino, com muitos fios escapando do rabo de cavalo que ela havia feito caprichosamente em casa, a jovem montou em seu cavalo enquanto Nicolas montava o dele.
- Hoje eu vou com você. - Ele disse.
- Não precisa, Nick. - Ela respondeu sorrindo.
- Como não? Você mesma disse que sua avó e seus primos estão chegando. Eu posso ajudar seus primos com as arrumações enquanto você ajuda a sua avó. Ou você não quer que eu vá com você?
- É claro que eu quero. - Ela sorriu. Com o coração saltitando de felicidade, a jovem cavalgou até sua casa acompanhada de seu namorado que a seguia. Os dois gostavam de correr e apostar quem chegaria primeiro.
Ao chegar em casa, Melissa percebeu logo sua vó sentada do lado de fora com uma bacia nas mãos, descascando alguma coisa. Ela desceu rapidamente do cavalo e foi correndo até a idosa. A saudade era imensa. Tinham ido até a aldeia da avó para visitá-la já fazia muito tempo.
- Vovó! - Ela disse abraçando a mulher com força. - Quanta saudade!
- Eu também estava com saudades de você, minha querida. Olha só pra você... - A avó observou a neta um pouco. - Está linda, uma mulher!
- Vovó! - Ela disse em um tom envergonhado e passou as mãos pelos cabelos. - Deixa te apresentar Nicolas, meu namorado. - Ela fez um sinal chamando Nicolas para se aproximar.
- Hum. - Respondeu sua avó com um sorriso malicioso. - Ele é bonito. É alto, forte, vai dar um bom marido.
- Não fala essas coisas perto dele, vovó, por favor. Quer me matar de vergonha?
- É claro que não, querida. - A avó respondeu com uma pequena risada.
Nicolas prendeu os cavalos em um tronco e se aproximou. Estendeu a mão para a avó de Melissa e apertou sua mão.
- Este é Nicolas, vovó. Eu o chamo de Nick.
- Nick, esta é minha avó, Elis. Mãe de minha falecida mãe. - Uma sombra de tristeza passou por seus olhos ao lembrar que a mãe poderia estar com ela neste dia e não estava. Na verdade, nem chegou a conhecê-la, tinha apenas a descrição das outras pessoas sobre ela, mas afastou esse pensamento, afinal hoje é um dia feliz.
- Prazer em conhecer a senhora.
- O prazer é meu, meu filho. Os primos de Melissa estão na oficina, você pode ir lá chamá-los, por favor? Precisamos começar a fazer as coisas.
- É claro que sim. - Ele deu um beijo no rosto de Melissa e partiu para a oficina.
Melissa decidiu tomar um banho e se trocar, para então começou a ajudar a avó no preparo das comidas que teriam naquela noite. Eram diversos pratos, doces e salgados, tudo que se podia fazer para uma festa. Enquanto isso ela observava o trabalho de seus primos e de Nicolas em arrumar tudo para a festa. Eles cortaram lenha e empilharam onde seria a grande fogueira. Arrumaram uma grande mesa onde as comidas ficariam e bancos para os convidados. E no centro uma cadeira enfeitada onde Melissa se sentaria para receber os presentes, em uma cerimônia simples, mas tradicional da família de sua mãe.
Ao perceber que já estava tudo quase terminado, dona Elis pegou duas caixas com ajuda de Melissa e levou para fora. As caixas tinham fitas e flores que os meninos teriam que usar para enfeitar o ambiente. Foi divertido ver a expressão de desagrado da face dos garotos, porém se propôs a ajuda-los, pois não queria sua festa estragada porque seus primos e seu namorado não saberiam onde colocar uma flor ou uma fita como enfeite. No final de tudo, o quintal na parte de trás da casa estava lindo, todo enfeitado com flores coloridas e fitas brancas e de um tom claro de verde.
- Querida - Chamou sua avó. - Vá se arrumar, daqui a pouco os convidados começam a chegar e você tem que ser a mais linda hoje.
- Mas vó, temos que colocar os pratos na mesa, é muita coisa pra senhora sozinha.
- Não se preocupe, minha querida, seu pai já está vindo e seus primos vão ajudá-lo a colocar as coisas na mesa. Eu já vou me aprontar também.
- Tudo bem.
Melissa se despediu de Nicolas, avisando que estava se recolhendo afim de se aprontar para a festa. O rapaz também partiria em breve com o mesmo objetivo.
Ao sair do banho, Melissa encontrou um vestido lindo esticado em sua cama. Ele era verde claro de um tecido muito leve e esvoaçante. Possuía uma faixa branca na cintura e um babado branco que ficaria pendurado em seus ombros e cobriria parte de seus seios por cima do vestido verde. Sua avó, estava sentada no canto de sua cama observando com atenção a neta.
- Gostou?
- É lindo, vó! Obrigada!
- Veste. Quero ver como ele vai ficar em você!
Acatando o pedido de sua avó, Melissa vestiu-o e caminhou para o espelho para arrumar o cabelo. Seu cabelo cacheado era muito cheio e dava muito trabalho arrumá-lo, mas com paciência ela soltou e enrolou cada cacho negro de forma que ficassem soltos e definidos em uma cascata cacheada até a cintura.
- Linda. Minha neta está linda! Para completar, você precisa de um sapato e um enfeite para o cabelo. - A idosa começou a se afastar até a bolsa quando uma batida soou na porta.
- Entra. - Ela respondeu achando que poderia ser seu pai. - Nick! Já chegou?
- Surpresa em me ver? Eu queria chegar antes da festa começar para te dar meu presente. Aliás, você está linda demais.
- Obrigada. - Ela respondeu levemente envergonhada porque sua avó estava presenciando tudo. - Mas o presente é só na hora dos presentes.
- Se eu te der meu presente na hora dos presentes não vai ter graça, eu quero que você use meu presente. Se você gostar dele, é claro.
Ele tirou uma caixa branca das costas, onde ele a estava escondendo. Não era grande nem pequena. Ele entregou a caixa para Melissa que estendeu a mão para pegá-la.
- Feliz aniversário, Mel.
Ela desfez o laço rosa que prendia a tampa da caixa e de dentro retirou um arco de cabelo com três linhas de um metal prateado e cada um deles era coberto por pérolas brancas. Ela foi para o espelho e colocou o arco nos cabelos, deixando um cacho cair solto na frente. Ajeitou os cabelos e se olhou em diferentes ângulos antes de se virar pra Nicolas.
- É lindo, Nick, obrigada. Mas isso deve ter sido caro.
- Não foi tão caro, você merece. E te deixou ainda mais linda.
Ela o abraçou forte e em seguida o rapaz saiu do quarto.
- Vovó, como estou? - Ela apontou para o arco em sua cabeça.
- Maravilhosa, querida, agora só falta o sapato.
As duas riram e se abraçaram, em breve a festa começaria. Ela se perguntou se o pai a acharia bonita também, se ele estava feliz. Sua vó e seu amigo disseram que estava linda e ela estava se achando muito bonita mesmo neste dia, e se a festa trouxesse ao pai certa melancolia, ela trataria de alegra-lo. Afastou a insegurança, calçou os sapatos e saiu do quarto. Este era o seu grande dia e não poderia haver espaço para insegurança.
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