Repense seus vilões: este não é meu papel nessa história. Apenas estou fazendo o necessário para alcançar meu objetivo. E meu objetivo é ter tudo. (siga a autora no instagram: @imevalovelace)
Sugestão musical:
🔥 My Oh My - Camila Cabello feat. DaBaby 🔥
Estou congelando na fila em frente a boate "No Kiss". Meu contato discute a um tempo com o segurança para me deixar entrar, mas aparentemente tem sido em vão. Não posso culpá-lo: "No Kiss" é a boate mais exclusiva da Cidade Z, localizada no coração da cidade entre os enormes prédios arranha céu, quais pertencem a gente que possuem tanto dinheiro que não sabem como é humilhante ficar esperando do lado de fora de uma boate até depois da meia noite.
Meu corpo perfeitamente esculpido está dentro de um tubinho preto de uma estilista local, YOKOOKOY, qual também combinava com a bolsa Clutch preta e sapatos Yves Saint Laurent. Meu cabelo está preso em um coque alto Barbie e estou perfeitamente maquiada para noite: brilho dourado nos olhos, batom nude na boca e bronzer nas maçãs do rosto.
Edgar finalmente vem até mim sorrindo. Em sua mão balança uma pulseira dourada com um QR Code preto, além do nome da boate impresso em prateado. Ele pega meu pulso e habilmente coloca a pulseira nele.
- Aproveite a noite, garota. Não sei quando conseguirei colocá-la ai dentro de novo.
Eu sorrio pra ele e digo:
- Eu sempre aproveito as noites.
Ele me olha por alguns instantes antes de se virar parar ir. Ele para e se volta para mim novamente:
- Você me dá arrepios, gata.
Apenas observo ele com meu sorriso mais falso que possuo. Eu sei que causo esse efeito em algumas pessoas e não me importo com isso. As vezes a melhor maneira de lidar com determinados indivíduos são os intimidando.
Vou até a entrada da boate, e mostro meu pulso para o segurança, um grandalhão com um terno Armani preto. Ele coloca um leitor de códigos em cima do QR Code da minha pulseira e libera minha entrada. Eu nunca tinha estado nesse ambienta antes mas tinha visto fotos o suficiente para me locomover facilmente dentro.
O cheiro de gelo seco misturado com essências de cigarros eletrônicos foi a primeira coisa que notei. Música pop tocava alto em caixas de som espalhados pelo ambiente.
Caminhei até o balcão do bar, me espremendo entre os corpos que já ocupavam a pista de dança. Pedi um martini e me encostei no balcão a procura da minha caça: a belíssima Catherine Yang, filha de Daniel Yang, um riquíssimo investidor em quase todas as áreas que haviam pra investir. Sua família estava no topo da lista das famílias mais ricas do País Z.
Não foi difícil a localizar: estava na parte superior da boate, na área reservada para o público vip. Ao seu redor estavam os habituais abutres: seu infiel namorado, Andrew Márquez, e seus amigos, Tessa Thompson, Jessy Carter, Amanda Zhang e Joseph Bargar.
Tessa é filha de um petroleiro. Tinha tanto dinheiro que gastava com futilidades, como uma longa coleção de carros exclusivos. Ela tinha em sua garagem particular pelo menos 40 modelos que variavam de luxo aos esportivos. Ela era sempre a motorista da vez e não consumia qualquer tipo de bebida alcoólica, embora alguns tabloides falavam sobre seu excessivo uso de cocaína e sua habilidade em destruir seus amados carros.
Jessy Carter é filha de um banqueiro muito importante no País Z. Ela estava sempre alcoolizada: tomava café da manhã na borda da piscina com Piña Colada e acabava as noitadas tomando Tom Collins em bares de procedência duvidosa. Ela tinha também uma longa lista de affairs com celebridades locais e internacionais.
Amanda Zhang é a mais discreta e a única universitária. Ela vinha de uma linhagem tradicional de riqueza. Os tabloides sempre davam destaque a sua elegância, desde ao seu modo natural de agir as suas vestimentas que viraram referência de moda. Não havia muito na mídia sobre ela, apenas causas sociais quais ela participava e seus méritos acadêmicos.
Joseph é filho de um investidor da bolsa de valores. Não havia muito sobre sua família nos jornais, apenas estava classificado como novo rico. Ele era um rico aparentemente normal: estava em todas as festas e sempre aparecia com alguma modelo como acompanhante. Bebia muito e se metia em algumas confusões, mas nada tão grave.
Andrew era o menos favorecido: seus pais eram donos de uma rede de concessionárias de veículos. Nem novo rico poderia ser classificado, era comumente chamado de "classe média alta". O mistério era como uma mulher do nível de Catherine Yang acabou com ele. Ele tinha um temperamento horrível e já havia sido processado uma vez por agressão. Bebia muito e gritava com ela na frente de todos. Não me surpreenderia se já tivesse agredido ela. E havia uma longa lista de traições da parte dele. Sempre terminavam após ela descobrir mas menos de uma semana depois reatavam.
Eu sabia tudo o que havia para saber deles através de blogs, jornais e revistas de fofoca. E eu estava decidida a entrar nesse seletivo grupo.
Eu poderia ter escolhido qualquer um dos amigos dela para tentar me aproximar, mas as personalidades esnobes e seus talentos para se meterem em confusões me deixaram sem opção. Não queria ser vista como um deles, atrapalharia minha carreira.
*
Observei eles por quase duas horas. Eu conversava com as pessoas que se aproximava e bebia devagar, revezando martinis com água com gás e limão. A maioria das pessoas que se aproximavam de mim eram outras modelos que me reconheciam de algum trabalho ou pessoas da área de entretenimento. Tirava selfie com grande maioria dessas pessoas e atualizava meu Instagram e Twitter. Recusava educadamente todo homem que se aproximava com a desculpa de estar esperando uma pessoa. Mas nunca tirava os olhos da mesa de Catherine.
Eles estavam se divertindo dançando, cantando e rindo. E bebendo. Bebendo muito. Mas em momento algum deixavam a área vip. Minha oportunidade aparentemente apareceu quando uma discursão entre eles começou. No começo era só uma pequena conversa por algo que, aparentemente, Catherine falou. Em alguns minutos começaram a se exaltar. Os gritos estavam abafados pela música alta e as vozes ali presentes.
Ela, aparentemente, tentava pedir desculpas a eles mas sempre estavam cortando ela. Em algum momento a discussão chegou ao seu ápice. Amanda e Joseph foram os primeiros a se levantarem da mesa e sumirem no meio da multidão de corpos na pista de dança. Na mesa a discussão aumentava entre Catherine e Andrew. Ele gritava e segurava com força seu ombro. Tessa se lavando sem dizer nada e também saiu. Jessy tentou intervir na briga do casal mas também recebeu palavras de ódio e pegou sua bolsa e saiu. Pude ver enquanto ela descia seus olhos cheios lágrimas.
Na mesa a briga se intensificou. Durou pelo menos mais três minutos. Ele gritava e em determinado momento apontava o dedo no rosto dela. Então com o dedo indicador pressionava o colo dela, como se jogasse algo na cara dela. Ele se levantou e ela tentou segui-lo, mas ele a empurrou e ela caiu sentada na cadeira qual acabara de se levantar. Foi isso. Ela ficou sozinha na mesa. Então começou a consumir todo tipo de bebida que havia na mesa. Entornava sem ver o que era, misturando restos de conhaque do copo do namorado e cerveja que Joseph deixou para trás.
Essa cena durou pelo menos 15 minutos até ela parar, se levantar e agarrar a bolsa. Ela deixou a área vip e eu a segui. Seus passos eram confusos: uma mistura de tropeços e quase uma corrida. Ela seguiu direto para o banheiro e caiu de joelhos em frente a um vaso sanitário vomitando.
O banheiro tinha apenas uma dupla de mulheres retocando a maquiagem. Quando elas viram a situação de Catherine riram e tentaram pegar os celulares para tirarem fotos.
- Vazem daqui antes que eu quebre a cara de vocês e as enfie no meio do vômito dela.
Elas me olharam assustadas e pegaram seus pertences em cima da pia e saíram.
Fui até Catherine e segurei seus cabelos enquanto ela vomitava.
Algo em seu pescoço chamou minha atenção: um colar de ouro branco coberto de diamantes. Eu já havia lido sobre esse colar: foi um presente que o namorado lhe deu quando começaram a se relacionar. Valia pelo menos 100 mil dólares.
- Cuidado, querida, se não seu colar vai cair. - disse para ela.
Ela o agarrou puxando. Murmurou algo inaudível e disse:
- Eu não quero, foi aquele nojento que me deu.
Ela voltou a vomitar. Era apenas um fio de líquidos que saia de sua garganta.
Com a mão que segurava seu cabelo deslizei os dedos pelo fecho do colar. Habilmente consegui abrir e o enrolei no meu dedo. Nesse momento ela tossiu uma última vez e se levantou sobre os joelhos e apertou a descarga. O colar quase escorregou pelos meus dedos, mas consegui agarrado no último momento.
- Seu colar caiu na privada, querida. - disse a ela.
Ela sussurrou algo inaudível mais uma vez e tentou se levantar. Ela quase caiu mas a ajudei a se equilibrar e a arrastei até a pia. Prendi seu cabelo em um coque enquanto ela continuava murmurando coisas sem sentido. A ajudei a lavar a boca na pia e paguei papel toalha e passei em seu rosto tentando limpar os borrões da maquiagem. Quando ela estava consideravelmente arrumada disse a ela:
- Acho que é bom ir pra casa.
Entre palavras sem nexo entendi ela dizendo que não queria ir pra casa mas não tinha aonde ir.
- Quer ir para minha casa? Você pode dormir lá e amanhã ir pra sua casa.
Ela parecia prestes a chorar ao dizer:
- Obrigada, você é uma pessoa tão legal.
Ajudei-la a sair do banheiro. Nos esprememos entre a multidão da pista de dança para alcançar a saída. Uma nuvem de fumaça de cigarros eletrônicos nos atingiu e ela tossiu novamente. Tive receio que ela vomitasse de novo, mas se ela sentiu vontade, disfarçou muito bem.
Quando chegamos a saída fomos educadamente barradas pelo segurança. Ele escaneou o QR Code da minha pulseira e ofereceu a maquineta de cartão de crédito. Minha conta deu 150,00 dólares de dois martinis. Com desgosto retirei meu cartão da minha bolsa e entreguei ao segurança. Ele escaneou a pulseira de Catherine e não fiquei surpresa quando o valor na tela indicava que os amigos não haviam pago nada. Quase 20.000,00 em bebidas. Peguei a bolsa dela e encostei na tela da maquineta torcendo para haver algum cartão de aproximação que funcionasse. Demorou alguns segundo mas funcionou. Fiquei aliviada, não tenho nem metade desse valor na minha poupança.
Na calçada fiz sinal para um táxi. Enquanto entrávamos notei um paparazzi tirando fotos e fiquei satisfeita. Era a publicidade que precisava.
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