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Os Whitehouse

Os Whitehouse

5.0
3 Capítulo
159 Leituras
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Sinopse

Índice

Um homem do mundo moderno morre e renasce no corpo de Sebastian Whitehouse. Um alfa doente e odiado, com um irmão que mal faz questão de vê-lo, e um marido que nunca o havia realmente amado. Nesse estranho universo, que morrer não é tarefa difícil, Sebastian tem que desvendar os mistérios de seus sonhos, que revelavam um futuro de devastação e morte, e impedir o pior.

Capítulo 1 Renascimento

Morrer é uma sensação estranha...

Não respiro, nem sinto o peso e as dores de sempre. A paz, como se meu corpo estivesse rodeado de água; a consciência anestesiada, mas estranhamente ali. Agindo como inconsciência. Eu sabia que estava morto, mas lembrava de todos os meus dias em vida.

Num vazio livre dos sentidos, as memórias passam como num filme longo e desinteressante.

O choro de um bebê, que saiu do casulo da barriga de sua mãe, do conforto e proteção da ignorância para ter os pulmões preenchidos dolorosamente pelo oxigênio, ainda imaturos demais para encarar o mundo real. O bebê se transforma numa criança sorridente; vestida de um sorriso que sumia conforme passava o tempo e ela envelhecia. Momentos de felicidade, momentos de tristeza. A vida foi passando. Até que os momentos tristes se tornaram predominância.

Aos 17 anos, fiquei doente para nunca mais me recuperar. O hospital era minha segunda casa. Os médicos e enfermeiros meus segundos pais e mães. Após definhar por três anos, morri aos 20. Foi uma vida curta, com um final infeliz, mas com pessoas especiais. E assim que chego no meu fim... . . . . . . ?

Espera, ainda tem mais? Mas eu já morri, não é pra ter mais! É para acabar em minha morte, não é?

Não, não terminou em minha morte, e no filme que eu achava ser da minha vida se materializa uma criança que eu nunca vi antes. Eu tinha certeza, ou talvez nem tanta certeza assim. Aquele rosto era familiar demais, apesar de ao mesmo tempo estranho. Eu sentia que conhecia aquele rosto, mas também não conseguia caçar memórias dele. Os grandes olhos azuis cinzentos e o cabelo branco como se fosse tecido com fios macios de nuvem, mas da onde? Quem era aquela criança? Sequer pude me perguntar muito, pois a imagem logo some, e palavras escritas com o mesmo brilho pálido das estrelas surgem, formando um comando:

PROTEJA A CRIANÇA

Para a minha surpresa, não demora e as palavras se esfarelam, como castelo de areia que um pé maldoso ousou chutar, dando lugar às ruínas sangrentas de algum lugar.

EVITE A DESTRUIÇÃO

Mais uma frase, que depois dá lugar a um nome:

ALEXANDER WHITEHOUSE

Que foi se afastando, para cada vez mais longe no vazio, e antes mesmo que aquilo tudo fosse digerido por minha consciência, sinto o ar em meus pulmões de novo, e eu puxo-o desesperadamente, num instinto natural de sobrevivência, que nos faz tentar sempre agarrar na vida com todas as nossas forças. Meus olhos se abrem arregalados, mas nada consigo ver além de borrões.

- Alguém chame um médico! O mestre acordou!

Merda... Esse maldito não podia falar mais baixo? Aos poucos tudo ao meu redor desembaça, e me encontro num quarto frio e gigantesco, pipocado de faces desconhecidas. Do meu lado direito, ouço os estalos que fazem o fogo. Sinto o cheiro de muitos perfumes que confundem meu nariz, que franze desconfortável. Estou vivo. Por mais estranho que isso possa soar, eu realmente estou vivo de novo, e num lugar muito diferente de um hospital.

Não tinha as cores claras tão características, e nem o teto recheado por luminárias tubulares, já tão a mim familiares; e apesar disso, uma certa similaridade aquele quarto escuro e sombrio dividia com um hospital: o ar pesado, fúnebre e triste, que sempre fez apertar meu coração. Talvez fossem as cores cinzentas, os lustres e enfeites de prata, ou os panos e cortinas em tons escuros, apenas um tanto mais alegres agora porque tingidos pela luz alaranjada das chamas, que lambem e mordiscam a madeira seca a virar cinzas.

Perante tanta informação a me tapear, e ainda muito desorientado, tenho o pulso tomado por um homem, que a poucos segundos havia entrado no cômodo tumultuado.

- Ele ainda está fraco, mas vai ficar bem com um pouco de descanso... Mestre, consegue me ouvir? Como está se sentindo?

Esse homem está me chamando de mestre? Mestre de que? Só se for mestre dos mais inúteis! Mas graças a ele, que eu tomo maior consciência das pessoas ao meu redor. Haviam muitas em pé, encostadas nas paredes, enquanto dois saltavam à minha vista, já que estavam parados bem ao lado da minha cama. Um deles é um jovem bonito e franzino; a face deformada pela preocupação tinha os olhos azuis apertados, o cabelo está lambido para trás. Veste-se como um empregado. O outro, de cabelos grisalhos, encaracolados e armados, uma barba recheada e bem aparada; é quem me examinou, e me fez perguntas, o médico. Percebendo que todos esperavam por uma palavra minha, não os decepciono apesar de hesitar.

- O que está acontecendo? Onde estou?

Todos me olham em choque. Tá, talvez eu os tenha decepcionado um pouco. Só então percebi que nenhuma das perguntas do médico eu dei o trabalho de responder. E quando estava prestes a tentar concertar o erro, o jovem, bastante alterado graças a venenosa ansiedade, toma a minha frente:

- Está em seu quarto, Mestre, o senhor se lembra do que aconteceu? - Senhor? Não sou muito novo para esse título? - O senhor teve mais uma crise, e acabou caindo em coma!

- Não, não me lembro... - Assusto-me com a rouquidão da minha voz, e ainda muito tonto ponho a mão sobre os olhos massageando-os levemente. Uma tentativa de fazer o desconforto passar, mas que não deu muito certo. quando liberto os olhos de novo, um jumpscare: a cara do empregado estava bem mais próxima que antes, e seus olhos cintilavam de preocupação, e ao mesmo tempo carregavam, um tanto camuflados, algo negativo. Medo. Rancor. Tinha algo de traiçoeiro, escondido dentro de toda aquela exagerada submissão que exala todo o seu corpo magro. - Não consigo me lembrar de nada.

- Como assim nada? Qual a última coisa que consegue se lembrar? - Pergunta o médico, com uma das sobrancelhas levantadas. Talvez já desconfiasse de algo. Talvez tenha estranhado meu comportamento, mas eu senti que ele já havia percebido algo, algo a mais sobre mim que nenhum outro na sala havia percebido até então.

- O que você está perguntando, Anastacius? É claro que ele está se referindo ao dia em que caiu doente! Deve ter sido um choque para ele, e um tão grande que o fez esquecer do resto do dia! Não estou certo, Mestre?

- Não, não é isso. - Eu seria um tolo se não me aproveitasse disso para inventar uma amnésia. - Eu não lembro do dia em que fiquei doente, nem o porque; não reconheço nenhum de vocês, e nem esse quarto. Eu não consigo lembrar de nada... Quem são vocês? Como se chamam? - O silêncio que perdurou no quarto assim que tentei me explicar, fez eu fazer as perguntas. Sempre odiei esses silêncios que acontecem hora ou outra no meio de diálogos. Mas apesar de minha tentativa, não me livro dele por um tempo, no qual o médico, que agora sei se chamar Anastacius, e o jovem se entreolham pasmados. Os outros que estavam pelos cantos tinham o mesmo espanto no rosto.

- Lin, - Então o nome dele é Lin - vá avisar que o mestre está com amnésia à...

Anastacius não teve sequer tempo de terminar, pois a porta foi aberta com força e tomou toda a atenção da sala. Um estrondo que se dissipa, e logo revela seu responsável: um homem esguio, de cabelos escuros como carvão, e rosto afilado; os olhos imperiosos tinham a cor das pétalas de uma rosa, uma rosa rubra que acaba de desabrochar, única num campo verde. Uma flor bela e solitária, era essa a minha primeira impressão dele.

- Querido, vejo que acordou - Querido? Ele se aproxima em passos elegantes, e está prestes a tentar tocar minha testa. - Ainda está com febre...? Ah...!

Eu não permito, e afastei sua mão com um tapa. Quem é esse homem para me chamar de querido? Sequer me importei com os grunhidos de choque que causaram minha ação. O médico é Anastacius, não esse estranho que chega forçando intimidade.

- O q-? - Ele, mais do que todos os presentes, é tomado pelo choque, ou talvez pela indignação, e encontra dificuldades para encontrar o que dizer.

- Quem é você? - Pergunto hostil. - E porque está me chamando assim?

- É... o caso é grave.

Lamenta Anastácio, que em seguida é complementado por Lin, que estava ficando pálido e mais pálido com o passar do tempo.

- Estamos perdidos... - para a surpresa de ninguém, ele capota para trás desacordado assim que termina de falar. Não fosse pela atenção do médico, ele agora estaria estropiado no chão, igual bosta de cavalo.

- Ei! - Levantei meu tronco assustado, e com o impulso de tentar ajudar, mas meu corpo fraco logo reclama, e minha cabeça explode. A dor repentina faz eu grunhir entre dentes. Merda!

- Lin, meu jovem! Acorde, acorde! Consegue me ouvir? - O médico tentava o reanimar, mas nenhum sinal é dado, e ele suspira derrotado, e encontra o olhar gelado do recém-chegado, que pede por informações, e Anastacius não tem a ousadia de descumprir seu pedido:

- O mestre acordou sem qualquer memória do seu passado. Está com amnésia, senhor.

Nem mesmo qualquer entidade divina poderia me preparar para aquele encarar gelado, que surpreendentemente tinham acesas as chamas da cólera. Uma mistura assustadora de fogo e gelo, O yin-yang perante meus olhos, e voltado para mim. Isso é o pior. Toda aquela perigosa mistura cortando o espaço entre nós, e irradiando em minha direção. Não sei o que me aguarda desse homem, mas eu acho que também não tenho muita pressa para descobrir...

Sinceramente, mais que lugar é esse que o universo resolveu justo me meter...

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Mais Novo: Capítulo 3 Vivo   11-25 08:35
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