As Cartas da Intriga é uma obra singular que aborda um grupo de pessoas gananciosas. No coração dessa trama intrincada está Takeshi Nakamura, um homem de mente afiada e ambição voraz. Desde jovem, Takeshi exibiu um talento incomparável para os jogos de azar, sua astúcia lhe concedeu uma reputação invejável nos subterrâneos dos cassinos ilegais da cidade. No entanto, sua ambição não conhece limites, e ele almeja nada menos que a posição de chefe da Yakusa, um posto reservado aos mais destemidos e poderosos. Em um mundo onde a traição é uma moeda corrente e a vingança é um prato servido frio, Takeshi enfrenta sua própria batalha interna entre o desejo de poder e a realidade brutal da vida na máfia Yakusa.
Takeshi Nakamura observava de relance a feição de cada um de seus oponentes ao redor da mesa de apostas do cassino, enquanto segurava suas cartas, tragava o restante de seu cigarro. As luzes baixas destacando as sombras dançantes dos jogadores e o som as cartas sendo embaralhadas criava uma aura de mistério e intriga. Uma aura que Takeshi era mestre em lidar, estavam quase na última rodada, e quando o terceiro depois dele desceu sua carta, Takeshi sugeriu um sorriso de canto da boca já prevendo mais uma vitória.
A pilha de ficha ao seu lado chamou a atenção de meia dúzia dos presentes, alguns ficavam admirados a cada rodada ganhada por Takeshi, já outros ficavam incrédulos com ele massacrando seus oponentes. A multidão tornou-se grande em pouco tempo, as pessoas que chegavam eram atraídas pelo grupo que parou para assistir as partidas.
Por fim chegou novamente sua vez, olhou para as cartas em sua mão, um sete de copas e um quatro de espadas, e sobre a mesa um oito de ouros e um ás de espadas. Pela sugestão de suor na testa de Masato ele provavelmente estourou a banca, pensou ele, o rapaz da esquerda e o da direita ainda não passaram, seus rostos esboçam uma tranquilidade ou até certa confiança exagerada.
É sua vez senhor Takeshi – disse o crupiê - Mais uma carta ou passa a vez?
Mais uma – respondeu.
Quando sua carta foi revelada os homens começaram a sussurrar entre si e esboçaram sutilmente um espanto já revisto por ele. Mais uma vitória, vangloriou-se. Takeshi sentia a tensão vinda de Masato, era quase palpável, bastava ver em seus olhos a vontade que ele tinha de voar em seu pescoço para o estrangular.
- Agora é a sua vez senhor Masato – disse o crupiê - o sen...
- ... Eu passo! - disse Masato de imediato.
Takeshi ainda esboçava seu petulante sorrisinho de canto da boca enquanto o observava. Depois de mais uma rodada, crupiê finalmente virou-se para ele.
- Eu desejo aumentar a aposta – disse Takeshi rapidamente e com confiança, o crupiê arqueou as sobrancelhas, surpreso.
- Sua vez senhor Masato...
- Também desejo aumentar a aposta! - A voz de Masato soou surpreendentemente mais alta que o normal chamando a atenção dos presentes, na tentativa fútil de provocar Takeshi com um sorriso desdenhoso.
Mas que otário, pensou Takeshi, se segurando para não explodir uma gargalhada com o movimento previsível de Masato, mas ele manteve a compostura e voltou a ler os blefes de seus oponentes, Ele está tentando me intimidar, mas ele já sabe que perdeu. É para isso que você serve Masato, perder para mim.
Quando terminou mais uma rodada, Takeshi sorria com orgulho ao público que o aplaudia, perplexos, enquanto mais fichas eram empurradas para sua pilha. São todos falsos. Menos você Masato, sua cara feia cheia de raiva é a mais sincera aqui, isso eu admito. Pensou Takeshi, olhou para o lado, as poucas fichas do início da noite, agora, se tornaram uma montanha. Uma grande montanha no vale de simples cartas corrompidas por aquele monopólio. Mas ainda é pouco, preciso de mais.
O ambiente carregava tensão, permeada pelo cheiro de fumaça de cigarro e álcool. Mesmo com as luzes baixas, Takeshi conseguia ver o pequeno brilho que se insinuava das armas discretamente escondidas sob as roupas dos membros da Yakusa, enquanto o vento soprava suavemente pelas cortinas semiabertas, criando uma sensação de iminência.
Passaram-se horas, e a cada roda ganha por ele pareciam não ser suficientes, parecia que sua montanha de fichas não ganhava mais nenhum volume sequer. Diferente de seus oponentes, que a cada vitória desistiam de perder seu dinheiro e saiam dali convictos de que não tinham a menor chance, com exceção de Masato e Ryuji. Os dois permaneceram e Takeshi os gradecia por isso, a insistência tola deles fazia continuar o show, atraindo mais público e compensando os que saiam, e mais fichas para sua pilha.
Aquilo era automático para Takeshi, ganhar. Mas nem sempre foi assim. Sua ambição e determinação foram forjadas nas duras ruas onde ele cresceu, a infância dele podia se considerar um tanto quanto difícil e desafiadora, marcada pela pobreza e falta de oportunidades, proporcionada por Kabukicho, um bairro famoso de luz vermelha em Tóquio. À medida que crescia, Takeshi desenvolvia uma inteligência afiada e uma habilidade excepcional nos jogos de azar, o que lhe permitiu ganhar uma reputação como um jogador habilidoso e um estrategista astuto.
Takeshi notava a tensão que causou com a emoção dos jogos, uma movimentação estranha de pessoas ameaçava ao seu redor, percebia o espaço estava cada vez mais cheio de pessoas comuns, animadas por sua sorte apreciando o show. O crupiê anunciou os resultados daquela rodada com voz neutra, seus olhos esboçaram um leve nervosismo quando Takeshi lançou um sorriso sutil, enquanto revelava suas cartas vencedoras, causando novamente um murmúrio de admiração e ressentimento na mesa, e mais jogadores desistiram de continuar.
A multidão dividiu-se e um homem muito elegante saiu do meio dela. Ele trajava um terno branco de alta costura, em seus pés, um sapato verniz de couro branco. O homem aproximou-se do crupiê quando ele ia começar a embaralhar novamente as cartas, parou e sussurrou algo em seu ouvido, o crupiê levemente fez que não com a cabeça, enquanto observava Takeshi, que não desviou o olhar por um segundo sequer. O crupiê retirou-se, desfazendo a multidão que percebera que os jogos terminaram naquele instante. O homem de terno branco aproximou-se de Takeshi, que logo percebeu a mistura de cortesia forçada e irritação contida.
-Creio que está na hora de encerrar a noite – disse o homem de terno branco, discretamente, sua voz era penetrante, mas não o incomodava - Sua sorte pode ter acabado, pois nada dura para sempre.
- Minha sorte é ilimitada – rebateu Takeshi, impassível.
- Os dois se entreolharam, o homem percebeu que aquela ameaça não foi suficiente para abalar o ego de Takeshi. Naquele mesmo instante, Masato e Ryuji sussurram entre si, e saíram sorrateiramente.
-Takeshi percebeu que aquele era o gerente do cassino, quando passou os olhos pelo ambiente viu que trouxera consigo muitos homens de terno preto, quase o dobro de homens que ele havia trazido. Estavam espalhados propositalmente em pontos estratégicos que dificultaria um embate ou uma possível fuga. Decidiu então, ceder.
Ele não desistiria, mas analisando a situação, aquela era a melhor opção no momento, decidiu aceitar o convite do gerente com um aceno de cabeça. Os homens de preto se recolheram e o gerente saiu, o que a poucos instantes era uma grande multidão, agora, o lugar se tornou tão vazio quanto um deserto. Recolheu seus ganhos calmamente enquanto seus olhos refletiam uma determinação silenciosa para voltar novamente.
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